Edição 15 – A linguagem falada – Os ditados populares – Outubro 2024

Edição 15 – A linguagem falada – Os ditados populares – Outubro 2024

Introdução | Resenha do livro: Quase memória | Filme: Eles não usam Black-tie | Em terra de cego, quem tem um olho é rei | Tem caroço nesse angu | Gato escaldado tem medo de água fria | Se ferradura trouxesse sorte, burro não puxava carroça | Passarinho que come pedra sabe o cu que tem | Para mulher, nem todo o pau é bengala, mas para homem, qualquer buraco é trincheira | Livros Indicados | Corpo Editorial | Escritores da Edição

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“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura!” Quem já não ouviu essa máxima da persistência? Os ditados populares são conselhos sem autoria definida que sobrevivem ao tempo, através da tradição oral de um idioma, de uma cultura, e estão presentes mundialmente.

Duvidam? “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança.” – é de origem africana e de contexto universal. “An apple a day keeps the doctor away.” – “Uma maçã por dia mantém o médico longe.” é um provérbio inglês do século XIX, quando se acreditava no poder medicinal do consumo de maçãs. Não é incrível? Eles expressam o pensar de uma região do globo, ou de um momento na história.

No nosso caso, no português do Brasil, temos inúmeras expressões. Logicamente, não é possível explorar nem uma décima parte, mas trouxemos algumas, elucidadas através dos textos dos nossos autores. A intenção é enaltecer a linguagem popular na qual estamos imersos todos os dias.

Boa leitura a todos!

Daiane Carrasco.

Resenha do livro: Quase memória, de Carlos Heitor Cony, por Daiane Carrasco

Logo no prefácio, o autor nos adverte: ‘(…) Daí a repugnância em considerar este Quase memória como romance. Falta-lhe, entre outras coisas, a linguagem, a reportagem e, até mesmo, a ficção. / Prefiro classificá-lo como “quase romance” – que de fato o é.’

Assim embarcamos no seu “quase romance”. Em 28 de novembro de 1995, após almoçar em um restaurante do Hotel Novo Mundo, onde costumeiramente ia, Carlos Heitor Cony recebe um embrulho. E aí, caros leitores, iniciamos a jornada emocional do autor às suas memórias. O motivo: tudo no embrulho lembra-lhe o pai, o jornalista Ernesto Cony Filho, desde a letra bem desenhada no nome do remetente, ao cheiro do pacote e o nó centrado, feito com barbante. Só que o pai já havia falecido há dez anos.

‘A rigor, nem precisaria abrir o embrulho para saber quem o enviava. Era ele, ELE mais uma vez e sempre, querendo ser útil e necessário, querendo agradar mas conseguindo apenas embaralhar meu caminho – e digo “embaralhar meu caminho” para ser isento comigo e delicado à sua memória.’ À primeira vista, o livro parece tratar do mistério em torno do embrulho, supostamente enviado pelo falecido.

No primeiro capítulo, temos a impressão de que se recusa abrir o pacote porque lembrar do pai é um incômodo. Entretanto, conforme o autor invoca a memória de Cony pai a partir de características vislumbradas no embrulho à sua frente, como o cheiro de brilhantina, descortinamos uma sincera homenagem. É interessante notar que, apesar de outros personagens transitarem pela história, como os irmãos e a mãe do autor, o foco é centrado em Cony pai e Cony filho, como a Terra orbitando ao redor do Sol.

O grande personagem, Ernesto Cony Filho, tinha inúmeros defeitos: péssimo para fazer negócios, atrapalhado, infiel, inconsequente, mas uma qualidade o fazia célebre: o inquebrantável entusiasmo pela vida. Repetia: “Amanhã farei grandes coisas!” como um mantra. Amava fazer balões (daí a capa de algumas edições trazer um balão, a despeito de serem proibidos). Viveu diversas peripécias entre as décadas de 30, 40 e 50, mais detalhadamente retratadas no quase-romance, desde trabalhar em um jornal incendiado na Era Vargas (o que comprometeu seus dividendos), a fabricante de perfumes, vendedor de rádios, criador de galinhas, enfim…

“Eu sempre fora sua plateia preferida, ele se produzia, se fabricava pra mim.” Depois de ler este lindo livro, fiquei com uma sensação agridoce. O cérebro humano é ávido por bons sentimentos. Temos o instinto de autodefesa de nos protegermos de memórias ruins. O autor nos conta histórias fantásticas de seu pai, como uma montagem de retalhos coloridos. Poupou-nos dos detalhes feios. Não ressaltou que seu pai foi inventor de tudo, mas feitor de quase nada, ou a crise familiar por ter tido uma amante por mais de 15 anos, vindo a se tornar sua segunda esposa. Que sofrimentos foram varridos para debaixo do tapete? Não sabemos e nem saberemos. Temos o retrato de um simpático anti-herói para acalentar nossos anseios literários. A memória é cúmplice de pai e filho…

Quase Memórias CARLOS HEITOR CONY

Quase memória
Autor: Carlos Heitor Cony

Tal pai, tal filho. O livro conta de forma muito tocante a história do pai do autor, o jornalista Ernesto Cony Filho, um homem sonhador e otimista, que saiu da vida para entrar na literatura.

O quase-romance de Carlos Heitor Cony transporta o leitor para um outro mundo, “um mundo que acabou”, nas palavras de seu autor. O mundo de seu pai, jornalista como ele, mas de um tempo perdido; do Rio capital federal, do compadrio despudorado, não da violência. Do dia a dia indulgente. Na elegia ao pai que é Quase memória, o protagonista Ernesto Cony Filho é o corpo e o espírito da época. Saiba mais…

Filme: Eles não usam Black-tie, de Léo Hirszman (1981), por Paulo Câncio

Este filme de 1981 retrata a realidade vivida pelos metalúrgicos do ABC Paulista do final da década de 70 e início da década de 80. O governo militar, iniciado com o golpe de 1964, estava passando por uma abertura política, em função de seu próprio desgaste. As primeiras eleições diretas, depois do golpe, ocorreram em 1989. O roteiro foi baseado na peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri, encenada pela primeira vez em 1958, no Teatro de Arena em São Paulo.

As greves eram o instrumento de reivindicação dos direitos dos trabalhadores, mas faltava maturidade para a defesa desses direitos, tanto por parte dos empresários quanto da classe operária. No “setor patronal”, a lei era usada como ponto de apoio para não conceder aumento aos funcionários e contrariada em outros casos, uma mentalidade firmada em uma estrutura de poder temida pelos trabalhadores que, em grande parte, temiam aderir à greve.

Dentro do contexto, Tião (Carlos Alberto Riccelli), filho de Otávio (Gianfrancesco Guarnieri), estava decidido a vencer na vida. Tinha o reconhecimento de seus pais pelo tempo em que havia batalhado para sustentar a si mesmo, a mãe (Romana; Fernanda Montenegro) e ao irmão mais novo (Chiquinho; Flávio Guarnieri), nos três anos em que o pai esteve na prisão por oposição ao regime militar. Sua namorada, Maria (Bete Mendes), conta que está grávida e faz tudo para que ele não se sinta pressionado para assumir o filho, propõe até aborto. Tião tem uma postura digna e resolve arcar com suas responsabilidades. Porém, as divergências de pontos de vista acarretam um progressivo afastamento entre Maria e Tião.

O conflito do filme se desenrola em torno da greve: o pai, Otávio, é um dos líderes do movimento, enquanto Tião é o “fura-greve”, servindo aos interesses dos patrões. Mesmo entre os grevistas, não havia consenso. Sartini (Francisco Milani), por exemplo, não entendia a necessidade de mobilização para se deflagrar greve; apostava no ímpeto de alguns poucos como força suficiente para, através de piquetes, parar toda uma categoria, o que era uma estratégia arriscada, pois com poucos operários mobilizados o movimento fracassaria. Bráulio (Milton Gonçalves) e Otávio, em contrapartida, aguardavam a adesão da categoria.

Otávio seguiu à frente da greve. Maria participou também. Houve repressão policial. Ocorreram mortes, inclusive a de Bráulio, líder sindical muito próximo a Otávio.

Tião, explicitamente, fez comício em prol de furar a greve, embasado na ideia do direito individual de não aderir ao estado de greve.  Isso decepciona Maria, que termina a relação e Otávio, que o expulsa de casa. Tião julga que fez a coisa certa. Seu pensamento é raso e ele não compreende a importância das causas coletivas, defendidas por Maria e pelo seu pai, que tantas vezes tentou alertar para o fato de ele estar perdido.

A cena mais bonita do filme é a catação do feijão, interpretada magistralmente por Fernanda Montenegro e Gianfrancesco Guarnieri. Representa a resiliência de toda uma classe operária. A luta é árdua e não termina nunca.

Eles não usam Black-tie, de Léo Hirszman (1981)

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Uma joia do cinema nacional, com roteiro escrito pelo saudoso Gianfrancesco Guarnieri. Narra o desenrolar de uma greve e os conflitos entre o pai sindicalista e o filho que se posiciona contra a categoria. É um marco porque mostra a luta do movimento operário durante os anos de repressão. Continua forte e atual. Saiba mais… (AdoroCinema)

Eles Não Usam Black Tie

Em terra de cego, quem tem um olho é rei, por Karine Souza e Pousas

Reizinho da Birosca*

Cabisbaixo, Zezinho ia para a escola quando viu de soslaio que a mãe, parada no portão de casa, já não o seguia com os olhos. Nessa hora, correu até seu esconderijo para pegar as poucas biroscas que conseguira esconder.

— Ué! Cadê? – Seu maior tesouro havia sumido. Como escondera debaixo de um tijolo, só podia ter sido surrupiado.

No pátio da escola, Carlos Antônio exibia a maior coleção que seu pai, dono da mercearia, podia manter. O garoto só sabia perder e ainda assim sempre saía em vantagem.

— Zezinho, olha, tenho a bola de gude mais bonita de todas: minha carambola azul. — caçoou Carlos Antônio.

— Mentiroso! Ela é minha e você roubou! — rebateu Zezinho, ao ver que o colega exibia uma birosca rara, única no povoado de Manja Léguas. Era a bola de gude dele, que ganhara em um jogo há semanas.

A criançada ajuntou-se ao redor dos dois. Até as meninas, mais interessadas em trocar papel de cartas que manejar as pequenas esferas, se esgueiravam para descobrir o que estava acontecendo.

— Ah, roubei? Num é meu pai que traz todas as bolinhas aqui pra cidade? — respondeu Carlos Antônio com um sorriso sarcástico — As raras ele sempre reserva para mim!

O rosto de Zezinho avermelhou, a raiva já tinha subido à cabeça.

— Mentiroso! Derrotei você no triângulo e ganhei ela há muito tempo. Me dá agora! — disse Zezinho em vias de atacar o colega.

mentindo? Então vou perguntar pra sua mãe se a bolinha é sua mesmo! — gritou Carlos Antônio para ganhar tempo.

Zezinho recuou. Sua mãe o proibiu de jogar bolinha de gude. “Você fica bom nisso — dizia ela — e quando crescer vai jogar sinuca, e um dia vai sair de casa e nunca mais vai voltar.” O menino intuía o absurdo, mas, na sua ingenuidade, não tinha argumentos contra o trauma que sua mãe perpetuava ao associar as biroscas com o bilhar e a sina de seu pai.

— Ih, vai chorar? — provocou Carlos Antônio vendo os olhos d’água de Zezinho em meio aos devaneios.

Zezinho investiu contra Carlos Antônio que correu desembestado pela escola. As outras crianças acompanhavam a perseguição. Encurralado, Carlos Antônio arremessou as bolinhas no rosto de Zezinho com toda a força do seu corpo. O menino caiu no chão sentindo a maior dor de sua vida.

A diretora interveio na hora. A situação era séria, chamaram até uma ambulância. Uma bola de gude alojara-se no globo ocular de Zezinho e ele corria risco de morte.

Depois de cirurgias e reabilitação, o menino estava pronto para retornar à escola, agora enxergando apenas com um olho. Nesse meio tempo, proibiram as bolinhas de gudes no recreio. Em todo o povoado de Manja Léguas houve uma comoção para que as crianças não brincassem mais com as biroscas. O comércio não as vendia mais.

Dessa vez, Zezinho estava acompanhado da mãe. Mal pôs os pés na escola e Carlos Antônio pediu desculpas ao garoto. Todas as crianças se aproximaram para ver o que tinha acontecido. Uma delas, ao constatar que seu olho de vidro lembrava a birosca azul, soltou:

— Olha, agora ele é o único que pode ter uma bola de gude, ele é o rei! — Todos riram e fizeram chacota da situação, mas levaram a sério. A partir de então, ele passou a ser chamado de Reizinho da Birosca.

* Bolinha de gude

Tem caroço nesse angu, por Fernando Buzzetto

Duas amigas conversavam sobre algo que havia acontecido na cidade, quando Rebeca ponderou:

— Patrícia, tem caroço nesse angu.

— Já que você mencionou essa expressão, sabe o que significa?

— Como assim?

— Eu sei que não foi proposital, mas às vezes, usamos termos ou ditados sem saber a origem. Na verdade, essa história vem do tempo da escravidão no Brasil. As cozinheiras colocavam pedaços de carne no angu servidos aos escravizados, daí a expressão. Então ao usar “tem caroço nesse angu” para dizer que alguém está escondendo alguma coisa, é uma condenação a um ato humanitário de uma escrava para diminuir o sofrimento do seu povo.

Rebeca concordou e elas continuaram matutando sobre o ocorrido. Assim como aconteceu nessa situação, frequentemente usamos termos ou ditados que perduraram através do tempo, mas que para os conceitos sociais de hoje são pejorativos. Utilizá-los pode criar uma imagem da pessoa que o faz que não corresponde ao que ela pensa.

Outro exemplo é o termo “doméstica”, que significava um escravo domesticado, como aquelas mulheres que trabalhavam na casa da fazenda, que por terem um temperamento mais calmo, conquistavam a confiança da família. Era o caso da cozinheira que colocava pedaços de carne no angu.

Poderia listar várias expressões que parecem ter a intenção de afirmar que o preto é inferior ao branco, tais como “denegrir”, “meia tigela”, “serviço de preto”, “dia de branco” e tantas outras. O importante é conscientizar as pessoas a terem cuidado em empregar expressões cujo real significado elas desconheçam. Essa preocupação não existe somente em relação às expressões, mas à literatura, música, pintura e todo tipo de arte, gerando outro tipo de debate. Devemos cancelar autores, compositores, artistas, em função do que pensavam em tempos passados?

Não, pelo menos na minha opinião. A história não pode ser apagada, mas as discussões sobre o contexto histórico e social devem ser confrontadas com a visão em relação às expectativas atuais. Pode-se citar o caso do escritor Monteiro Lobato, que em suas obras utilizava termos como “macaca de carvão”, “carne preta”, “beiçuda” entre outros, para se referir a uma pessoa preta. É inegável o valor das suas histórias, mas termos como esses devem ser substituídos?

Essa é uma outra discussão. Nesse caso, eu me posiciono a favor da troca, ou seja, uma atualização. Afinal, como se sentiria uma criança preta lendo uma expressão dessas?

Voltando ao ditado que originou essa reflexão “tem caroço nesse angu”, é uma expressão que faz parte da tradição oral do Brasil, mas ao se referir a uma situação mal explicada, podemos dizer que “há algo de estranho nesse caso”, evitando discussões desnecessárias.

É preciso compreender que a sociedade muda e que o vocabulário deve ser modernizado em detrimento dos múltiplos contextos. Pensando nisso eu me pergunto: quais os valores que entendemos como corretos serão abandonados no futuro?

Reflexões de uma gata escaldada, por Lilian Ney

Uma conversa com o ditado popular “gato escaldado tem medo de água fria” e a violência praticada contra as mulheres.

Os ditados populares são frases ou expressões do senso comum passados de geração em geração sem uma autoria conhecida, na maioria das vezes. São saberes do cotidiano, com a intenção de transmitir experiências e conhecimentos e podem ser folclóricos, religiosos, regionais, morais, etc. Atravessam fronteiras e chegam a outras nacionalidades carregando a mesma sensação de sabedoria. Neste caso, a sua tradução pode ser literal ou adaptada para cultura de cada país.

“Gato escaldado tem medo água fria” pode ser pensado como um alerta contra situações que fogem do nosso controle. E o que fazemos a partir dessa vivência? O medo de reviver uma experiência ruim pode nos tornar mais atentas/os ao que acontece ao nosso redor. Também pode nos intimidar e nos colocar em estado de paralisia atingindo o corpo e a fala. A violência contra as mulheres é um exemplo desse tipo de situação.

Quanto vale a vida de uma mulher? Como as nossas narrativas podem ser um instrumento de luta para combatermos a violência de gênero? Como trabalhar nossos medos e incertezas?

Nós, mulheres, somos gatas escaldadas, apedrejadas, afogadas, assassinadas, inferiorizadas, defenestradas, queimadas em fogueiras, vítimas de feminicídio, apontadas com os mais diversos adjetivos pejorativos por causa das nossas roupas, do nosso estado civil, da nossa identificação de gênero e sexualidade, das nossas escolhas profissionais, entre tantos outros movimentos criados socialmente, como pertencentes aos homens.

Desde muito tempo lutamos para combater as violências contra nossos corpos e vozes. Lutas sociais, projetos político-pedagógicos nas escolas, programas de prevenção contra a violência, leis e ações governamentais parecem não ser suficientes para que tenhamos a paz que desejamos. Estamos sobrecarregadas com o cuidado com os filhos, com a lida dos afazeres domésticos, com os assédios que sofremos em transportes públicos, no trânsito, no local de trabalho e tantos outros, muitas vezes velados, feitos em tom de brincadeira, mas que sentimos em todo nosso corpo. E continuamos com medo.

Faço aqui uma analogia com o ditado popular de que trata esse ensaio, de que se um gato que foi escaldado, não vai querer tomar banho, mesmo que seja de água fria. Na sua memória está a dor sentida. Do mesmo modo, mulheres que sofrem violência, quando conseguem se libertar de quem as oprime, sempre olharão desconfiadas para outras pessoas, porque para elas o medo de uma nova violência é constante.

Porém, o medo não pode ser paralisante. Ele precisa servir de alerta para que pensemos nas situações que vivenciamos. É um convite a sermos conscientes dos riscos e a agirmos com cuidado, com cautela, diante de situações semelhantes. Outro fator importante de experiências negativas é o que aprendemos com elas. O que podemos fazer para que outras mulheres percebam que estão vivendo numa situação de risco iminente?

Os noticiários e as redes sociais divulgam diariamente episódios dessas violências sofridas pelas mulheres. Somos direta ou indiretamente marcadas/os por episódios trágicos, por experiências que vão aguçar nosso olhar como um instinto de autodefesa. Desconfiamos até de coisas banais como um modo de evitar que essas situações se repitam.

Aprendemos com os desafios enfrentados, com as experiências vividas em um mundo ainda violento e machista. Gato escaldado tem medo de água fria, mas as mulheres seguem – mesmo escaldadas.

Se ferradura trouxesse sorte, burro não puxava carroça, por Luiz Rosa

Ferraduras, figas, badulaques e afins

Distraído como era, admirado com a altura do campanário da matriz: — Coisa mar linda o sino tocando…

Era ensurdecedor, verdade, mas lindo de qualquer forma. Bobo, olhando pra cima, esqueceu-se do chão. Tropeçou feio em uma pedra descalça. Trupicou três passadas largas, catando cavado bonito que, por pouco, não caiu de cabeça no bueiro aberto. — Eita que foi quase! — Sujeito de sorte, o cabra.

João era seu nome. Era ou é. Não sei, faz tempo que não o vejo, num faço ideia por onde anda, sumiu das vistas. De repente, até melhor que eu. Se bem que melhor que eu é fácil. Deixa quieto. A história da vida de João é coisa que não me esqueço. Lembro de dó, respeito e admiração pelo passado que não me pertence.

Pense em um sujeito que acredita em tudo?! Nada passava despercebido. O pio de uma coruja, o assovio do vento no pé da orelha, um par de folhas cruzados em cima da calçada. Tudo era sinal, boa ou má sorte. Não passava debaixo de escada, não cruzava com gato preto, se benzia de frente à igreja. Em toda árvore um iroko1, em toda pedra um duende, a cada esquina um espírito desperto contando-lhe novidades. Comprava rifa, jogava no bicho, na loteria, raspadinha. Nunca ganhava, mas não deixava de acreditar.

Um dia chegou cá em casa, dando pulos, rindo de bobo, falando alto. Cheguei a pensar “Meu amigo endoidou de vez…” Nera nada! Dizia ter recebido um amuleto da sorte, coisa fina, real. Contou que foi dado a ele por uma velhinha meio murcha que apareceu do nada já o chamando pelo nome: — Vem cá meu menino João, teu dia chegou!

Quando ele disse aquilo, até eu me arrepiei. Parecia mau agouro:

 — Toma cuidado, moço, essas coisas podem custar tua alma. — Eu, me enredando naquelas maluquices, já estava vendo meu amigo nos braços do capiroto. Desceu a escada amarrando o badulaque no pescoço, crente de que sua sorte havia mudado, e foi.

Corri atrás dele, queria ver para onde iria, fiquei preocupado, curioso também. O que vi, não acreditei. Logo que botou o pé na rua achou uma nota de CR$500 mil2 no-vi-nha estirada na calçada “Sorte do cão!” — pensei. Outra coisa que me deixou abismado: João, sujeito mal-acabado, pangaré desdentado, de repente, virou alvo de interesse das moças bonitas, das senhoras enxutas, das velhinhas sem pudor. Era tanto sorrisinho de canto, ajeitada de cabelo, desejos de bom dia, que nem ele tava entendendo nada.

Mar num tá veno? Minha sorte mudada! — O pensamento não poderia ser outro: por ser domingo, dia de descanso, não dava para fazer a loto. Correu para rua da feira: jogar no bicho! — Bota no burro o jogo mais cercado, dobrado, de trás para frente, de cima para baixo, o que der! — Raspado até o ultimo tostão. Bamburrou3 com força, recebeu nota por nota de um banqueiro desconfiado.

Daí para frente sua sorte mudou de um jeito um tanto estranho. Tudo era sempre muito intenso e desmedido. Enricou diversas vezes das tantas que ficou pobre de quase morrer de fome de novo. Casou-se, mas logo tomava uns chifres e separava de forma abrupta e chorosa. Do tempo que viveu aqui, eu o vi tornar-se viúvo duas vezes. Caixões brancos? Perdeu as contas de quantos enterrou. Fez um prédio, a prefeitura embargou. Montou firma, faliu. A loja que abriu pegou fogo. Se andava de caminhonete, era certo de que logo estaria a pé. Por diversas vezes lutou contra a morte e sempre voltava mais forte. E o amuleto? Cada vez mais reluzente em seu pescoço.

Um dia, sem mais nem porquê, desapareceu, saiu das vistas, não deu mais notícia. Tenho para mim que se livrou daquela mandinga, foi embora, começar a vida noutro canto. Lugar mais sossegado, sem tanto olho gordo, sem tanto mau-olhado ou influência da sorte, sei lá.

  1. Divindade cultuada dentro do Candomblé Ketu, é quem representa a ancestralidade, o tempo e a passagem dele.
  2. Quinhentos mil cruzeiros. O conto se passa em 1993.
  3. Tirou a sorte grande.

Passarinho que come pedra sabe o cu que tem, por Samuel Ferreira

Tudo tem seu preço! — dizia a mãe de Reginaldo — Você pode torcer por aquela escola de samba, para aquele time, rezar para aquele santo ou defender tal partido, mas isso sempre será a sua benção e sua maldição. É uma faca de dois gumes!

Reginaldo pensava naquelas frases concatenadas e viscerais da sua “velha”, reverberavam dentro dele desde que se entendia por gente. Ou melhor, aquelas palavras fizeram com que ele se tornasse gente. Até mesmo mais cedo do que deveriam.

— Mãe, então é melhor não ter lado? — perguntou-lhe.

— Claro que não, Reginaldo. — respondeu sua mãe com veemência. – É necessário tato e responsabilidade para ter lado.

— Mas então o que eu faço, mãe? — indagou o adolescente, com certo tom de indignação.

Sua mãe interrompe o mexer de panelas, fica estática por um instante, olhando pela janela como se estivesse enxergando a superfície através de um periscópio e responde:

— Meu filho, tem coisa que não dá para esconder — dispara Dona Carolina — Tem coisa tua, que vem na sua frente, chega antes mesmo de você, como se fosse um estandarte!

Por mais que Reginaldo não conseguisse captar integralmente a ideia passada por sua “coroa”, aqueles diálogos o despertavam para algo real, mesmo que de forma subjetiva. Aquela mãe, mesmo que não fosse muito anciã, possuía sabedoria de griot.

— É como a cor da minha pele, né, mãe? Ou como o meu cabelo? – questiona Reginaldo em movimento pelo barraco, como se fosse um peripatético.

— Sim, meu amor, exatamente! – afirma Carolina com orgulho do pequeno homem que carregou no ventre e criou em “carreira solo”. E segue:

— Tem coisas que não temos como pôr para debaixo do tapete.

— Nossa, mãezinha, esse papo tá ficando mais enrolado que namoro de cobra.

— Meu filho, lembra daquelas histórias que seu avô te contava sobre os rolês de política?

— Claro, mãe, lembro sim!

— Então, Reginaldo, tem coisas que a gente tenta esconder e consegue. Outras não, pois tomam uma proporção muito grande. Por mais que a gente tente disfarçar, dar outro nome, é impossível. Foi assim no tempo dos seus avós, na minha juventude e algumas coisas você também enfrentará!

— Entendi, mãe. Mas como vou esconder o meu time? Como vou esconder minha fé? Não dá! Não tem como. – Reginaldo começa a acoplar as suas ideias nos argumentos de sua mãe.

— Essas são as grandes questões e problemáticas da vida, meu filho. O caminho não está pronto. É necessário caminhar…

Reginaldo retém tudo com atenção. Sabe muito bem que sua mãe, assim como seus avós, são pessoas sábias. Certamente, por questões de desigualdades e de preconceitos, sua família não alcançou espaço e melhor condição social. Eram gente humilde, a base da pirâmide social, que sustenta o topo. Embora Reginaldo negro e periférico, sentia-se orgulhoso de si mesmo.

— Sei que tudo na vida tem sua consequência, mãe! É inevitável.  Ainda assim, eu prefiro bancar as consequências das minhas posições, vontades e objetivos. Prefiro o desassossego a ser acomodado.

Carolina, mesmo receosa, completa:

— Você é bem meu filho mesmo. A fruta não cai muito longe do pé …

Reginaldo sabe que sua mãe teme por sua vida, como todas as mães de pretinhos pelo país. A violência social e do Estado recai sobre a juventude negra. São alvos fáceis da estigmatização racial.  E ele conclui:

— Mãe, vai ficar tudo bem. Como diz o vô:  “Passarinho que come pedra sabe o cu que tem!”

Para mulher, nem todo o pau é bengala, mas para homem, qualquer buraco é trincheira, por Daiane Carrasco

Bengalas e trincheiras

Lembrava-se de um provérbio que sua avó insistentemente repetia: “Para mulher, nem todo o pau é bengala, mas para homem, qualquer buraco é trincheira!” Uma sentença, um ponto de corte entre as moças direitas e as devassas: a seletividade. Dizer muitos “nãos” e poucos “sins”, em prol da boa reputação. Conduta contrária do que esperar-se-ia de um menino – quanto mais, melhor.

Toda a semana repetia o ritual: acordava mais cedo do que de costume. Banhava-se demoradamente. Secava e ajeitava meticulosamente os longos cabelos. Abria a gaveta das lingeries. Decidiu-se por um conjunto preto, conferindo um ar etéreo aos seus atributos. Escolheu uma roupa elegante, mas que insinuava as curvas do seu corpo – um ode à sua beleza. Vestiu-se. Maquiou-se. Saiu para o trabalho com um sorriso nos lábios, como uma criança que esconde dos adultos um segredo.

Movia-se por um desabrochar invertido, escondido, buscando silentemente o que desejava. A vida cabia hermeticamente nas sextas-feiras. Saía com o pessoal do trabalho depois do expediente. “Quem sabe hoje?” O mesmo barzinho, rostos conhecidos. Música ao vivo. As conversas animadas, mas desinteressantes, a entediavam. Resolveu, então, aproximar-se do palco. Dançava sozinha, alheia aos demais, como se devotasse seus movimentos aos músicos da rotina da garganta, o rock.

“Love hurts” – dizia uma das canções. Essa era antiga. Talvez fosse um sinal de que devesse partir. Recordava-se que não amava, também não sofria. Conservava-se em uma nulidade cômoda, como se tivesse aprendido a andar sem tropeços. Retirou-se da frente do palco. Virou-se em direção ao balcão. Pediu a conta. Dirigiu-se ao caixa. Sentiu alguém tocar-lhe a mão. Voltou-se para trás. Embora não o conhecesse, julgou que a fisionomia lhe era familiar. Subitamente notou que a banda não estava tocando. Percebeu que faltava-lhe um músico. Olhou atentamente: era o guitarrista.

— Por favor, não vá embora. Fique. Ou eu vou ser obrigado a sair por aquela porta e a noite acabou pra todas essas pessoas. Eles não podem continuar sem mim. – Falava-lhe com uma certa audácia. Ela ficou sem reação. Não disse uma única palavra. Apenas acenou com a cabeça em tom afirmativo.  Depois da última música, relutante, aceitou ir até o quarto de hotel onde ele estava hospedado.

— Não quero que pense que faço isso em todos os shows. – Retirava uma toalha da poltrona para que ela pudesse se sentar. A confusão de roupas espalhadas, jogadas displicentemente, ejetadas da mala, falavam por si. Talvez não intentasse companhia, ou simplesmente não se importasse em causar boa impressão. Atentava-se a detalhes que pudessem dar-lhe pistas sobre o ousado guitarrista.

— E se fizer? Invertendo a pergunta: e se eu aceitasse qualquer convite? Mudaria alguma coisa? – Ele não respondeu. Abaixou-se e procurou algo nos seus pertences. Indecisa, prosseguiu:

— Olha… Acho que foi um erro. Eu vou embora. – O constrangimento de ter saído com um desconhecido bateu-lhe com força, um lapso vexatório de insensatez. Imaginava a avó, tricotando no sofá, passando-lhe um sermão, com o dedo apontado na sua cara, por ter sido fácil: “Logo de primeira! Sem cerimônia! Tá perdida, hein, minha filha!” As trincheiras soterradas, cutucadas por bengalas a julgarem sua vontade, sua moral, seu corpo.

— U2… Turnê 360. Já assistiu? – Apertou o play e deitou-se na cama.

— É isso? Quer que eu assista ao show com você? – A quebra na expectativa afrouxou-lhe as defensas. A despretensão a instigava a permanecer ali. O desejo, antes tão secreto quanto uma zona de subducção, profunda e em magmas, aflorava na crosta terrestre.

— Por enquanto, sim. – Ajeitou-lhe um travesseiro.

Deitados lado a lado, quietos, sem diálogos, meditavam sobre o show passando na tevê. Havia uma eletricidade crescente que transpassava o mar de gente outrora orbitando em 360°. A música preenchia a atmosfera daquele reduto íntimo. Aproximaram-se, seguindo a lei física da atração dos corpos, que rege os astros e as partículas errantes do universo. Inclinara-se e certa de que o meio entremeia-se ao fim, deparou-se com uma cueca branca, impecável, recém-saída da caixa, com cheiro de tecido novo, usada pela primeira vez. Não se conteve.

— Você sempre se veste assim? Com imaculadas cuecas?

— Não… Só às sextas-feiras.

Como a mandala yin e yang fundiam-se: o noturno e o frio, o claro e o quente. O preto e o branco, antes sob as roupas de ambos, repousavam cúmplices, abraçados em um canto qualquer. Abstinha-se aos julgamentos – pau ou bengala – não importava. O mundo condena qualquer mulher – casta ou profana – e não mudaria por qualquer renúncia sua. Seria trincheira, um breve refúgio de um homem a escapar do mundo, enquanto ela própria esvaía-se de si. Ouvia uma canção sobre uma cidade de luzes ofuscantes. Onde quem sabe muito sente pouco, onde uns roubam e outros rezam…

Livros Indicados

Nesta edição, queremos inovar: recomendamos um manual de sobrevivência de utilidades domésticas, um guia básico de etiqueta à mesa e um olhar sociológico sobre a moda.

Já leu alguns desses? Que tal abrir a mente e experimentar?

Sebastiana Quebra Galho

Sebastiana Quebra-Galho
Autora: Nenzinha Machado Salles

Mancha de vinho na roupa, limpeza de couros, bolor em fitas de vídeo. Problemas difíceis e que, caso não sejam tratados adequadamente, podem arruinar as peças. Foi pensando nessas pequenas dificuldades do cotidiano que Nenzinha Machado Salles escreveu SEBASTIANA QUEBRA-GALHO- Um guia prático para o dia-a-dia das donas de casa. O guia, na verdade, é indicado para toda a família. As dicas são divididas por temas. Assim, em “Alimentos em Geral”, por exemplo, encontramos informações e sugestões para dirimir dúvidas envolvendo preparo, conservação e aplicação das verduras, legumes e conservas. Já em “Beleza”, os conselhos da autora vão dos pés à cabeça. SEBASTIANA QUEBRA-GALHO vai além. Saiba mais…

Boas Maneiras à Mesa
Autora: Célia Ribeiro

O modo como uma pessoa se porta à mesa pode significar tudo. Num mundo competitivo como este em que vivemos, o menor deslize pode causar constrangimentos ou prejuízos materiais. Este livro é uma contribuição para a divulgação das regras que regem o convívio social, especificamente no que se refere ao comportamento à mesa. Um guia prático, ilustrado com despojamento e bom gosto pelo pintor, ilustrador e gravador Vitório Gheno. Do couvert ao cafezinho, tudo o que pode ocorrer durante uma refeição está indicado de acordo com os procedimentos internacionalmente corretos e recomendáveis. Saiba mais…

O Império do Efêmero
Autor: Gilles Lipovetsky

O Império do Efêmero
Autor: Gilles Lipovetsky

Como se explica que a moda seja um fenômeno essencialmente ocidental e moderno? Quais os grandes momentos históricos, as grandes estruturas que determinaram a organização social das aparências? Elaborando uma verdadeira arqueologia do frívolo e do efêmero, uma reflexão que ultrapassa a lógica do diferenciamento social, o filósofo francês Gilles Lipovetsky confere à moda um caráter libertário, faz dela signo das transformações que anunciaram o surgimento das sociedades democráticas. Lipovetsky acaba por nos mostrar que, “no filme acelerado da História moderna, dentre todos os roteiros, o da Moda é o menos pior”. Lançado na França em 1987, O império do efêmero provocou polêmicas acirradas: alguns críticos investiram violentamente contra ele, mas outros o consideraram um autêntico guia dos anos 80. Saiba mais…

Continue acompanhando em nosso site: Edições de 2023 e Edições de 2024.

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Escritora Daiane Carrasco

Editora

Daiane Carrasco
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Escritores da Edição nº 15 de 2024 – A linguagem falada – Os Ditados Populares

Paulo Câncio
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Autor dos Livros Trajetória de Aventureiro
& Momentos da Vida (Direto com Autor)

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Poeta, Escritora e Feminista.

Do cotidiano ao assombroso tudo vira narrativa.

Coautora e organizadora dos livros: Poesia no espelho: diálogos de autopoética (2024); Delírios de Quinta (2023); Papareinha– Poesia Infantil (2020); Nossos poemas (2017); Condomínio Saint Hilaire (2016); Vitrais – Contos do Invitro (2015) e Participação nas revistas online Zine Marítimas, La Loba Magazine e Litera Livre. Coautora na revista Marítimas: de volta ao lar (2024) – PDF, premiada na Lei Paulo Gustavo.

Instagram: @lilian_ney

Lilian Ney

Luiz Rosa

Nascido e criado na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Casado e pai de quatro filhos fantásticos, escrevo contos e romances sobre pessoas simples do campo e periferias.

Instagram: @luiz_rosa_escritor_

Autor dos livros: O diário de um homem só, Depois do tombo, Contos leves de Açúcar, Lona Prata, Chão Pisado e do Tempo que o Tempo me deu.

Samuel Ferreira
Historiador.

Instagram: @umbarrildesamuka