Edição 07 – A Arte da Sedução – Fevereiro 2024

Edição 07 – A Arte da Sedução – Fevereiro 2024

Introdução | Filme – Um Namorado para Minha Mulher | Resenha do Livro Amar, Verbo Intransitivo | Devaneios | Sedução Em Tempos Virtuais | Paixão e Maturidade | Consciência de Classe | Livros Indicados | Playlist Nacional | Playlist Internacional | Corpo Editorial | Escritores da Edição

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A Arte da Sedução, por Cris Brandão

Platão, em sua obra “O Simpósio”, mais conhecida como “O Banquete”, nos conta que os convidados de Agatón propuseram um elogio ao Amor e assim, Aristófanes, dramaturgo grego, realizou o quarto dos sete discursos apresentados. Ele contou que, no princípio, os seres humanos eram criaturas plenamente realizadas: “pulavam como bolas, podiam fazer acrobacias, viajavam constantemente e eram felizes”. Aristófanes continuou sua história dizendo que “É preciso primeiro aprender a natureza humana e suas modificações. Nossa antiga natureza não era a mesma de agora”, e afirmou que o homem primitivo tinha “o dorso redondo e os flancos em círculo”; “ele tinha quatro mãos, quatro pés e uma cabeça com dois rostos, olhando em direções opostas”. Entretanto, Zeus, ao observar tanta felicidade e autossuficiência sentiu que isso era um desafio aos deuses e ordenou a Apolo que os dividisse em dois, para sempre, deixando dentro de cada um o sentimento de incompletude e a busca desenfreada pela sua outra metade, pela sua alma gêmea.

O mito das almas gêmeas é um assunto discutido há muitos séculos. Filmes e novelas produzidos como forma de entretenimento muitas vezes são consumidos como um ideal, uma possibilidade de encontrar a “pessoa certa”, o “amor da nossa vida”. Às vezes, esse “amor da nossa vida” acontece até “à primeira vista”, e ele vem de uma forma tão intensa, vigorosa e avassaladora que desassossega.

Devemos buscar a felicidade porque só num espectro de satisfação pessoal teremos relacionamentos equilibrados, saudáveis, equitativos e harmoniosos. E sim, é possível que haja relacionamentos assim e que durem toda uma vida. Mas como conquistar essa plenitude ao lado de alguém?

Vem que a gente te mostra! Exploramos as facetas do amor nesta edição sobre “A arte da sedução”.

Filme: Um Namorado para Minha Mulher, por Sérgio Fernandes

O filme começa ao som de Ramones – What A Wonderful World (regravação de Louis Armstrong). Passa-se um clip do casal Nena e Chico (Ingrid Guimarães e Caco Ciocler) se curtindo, apaixonados, fazendo tudo juntos, até dividindo o fone de ouvido com essa música sensacional.

Saindo do paraíso para a vida real, casados há alguns anos, vê-se Nena extremamente chata, reclamando e reclamando, mas reclamando de tudo mesmo! Chico é o típico cara reticente, que não consegue completar uma frase, além do “bom-dia” não correspondido. Ela não trabalha. Ele tem uma loja de produtos vintage.

Todos os amigos do futebol sabem da situação. Chico está sempre na berlinda. Vira motivo de chacota por conta da esposa chata. Tentam de todas as formas fazer Chico pedir a separação, interpretam a Nena para ele treinar a fala, e nada! As palavras não saem da sua boca. Os amigos indicam um sedutor de aluguel, chamado Corvo (Domingos Montagner).

Corvo tem um ar de matador de aluguel, veste-se de preto, tem cabelos compridos – é uma figura peculiar. A gagueira de Chico no encontro com Corvo confirma o medroso bobão. O acordo entre ambos é Nena ser seduzida para que tome a iniciativa na separação.

Após ser contratado, o sedutor pede para Chico arranjar um emprego para a mulher, pois ele precisava dela saindo de casa todos os dias, com essa rotina ele poderia agir. Outro amigo entra em cena, agora Gastão (Paulo Vilhena) com um programa na Internet, onde Chico além de pedir que contratasse a esposa, bancaria o salário.

Gastão soube como aproveitar a antipatia e chatice de Nena, fez um piloto: falou para ela deixar rolar o papo e ser ela mesma. Surpreendentemente, o que era apenas um favor para o amigo, deu muito certo.

Entre idas e vindas de casa para o trabalho, Corvo por “coincidência” se faz presente, cria laços com ela, rolam conversas, idas a restaurantes e bastante diversão. Chico, livre, leve e solto nas primeiras vezes que chega em casa, chama pela esposa e não ouve resposta. Então mata vontade de tudo (desejos infantis, diga-se de passagem): de videogames a pizzas no sofá – e quando ela chega, finge estar dormindo.

Com o tempo, ele vê que Nena está parecendo a mulher com quem se casou, entra em desespero para abortar a missão. Só que Corvo também encantou-se por ela! Os amigos então sugerem uma festa na casa dele. Ao chegar em casa toma coragem e a informa. Ficou surpreso quando ela disse que cuidaria de tudo. Festa rolando, Nena, simpática anfitriã, e se divertindo. Nem preciso comentar que terminou o dia com uma aproximação do casal que há muito não acontecia.

No dia seguinte, plano descoberto, Nena pede a separação, Chico fica deprimido. Conhecemos bem a frase: “Só se dá valor quando perde!”. Sem mais spoiler, pouparei o final.

Vale a pena assistir ao filme. Ingrid Guimarães, Caco Ciocler e o saudoso Domingos Montagner formam um triângulo engraçado, convincente. Além de transmitir aos espectadores uma mensagem reflexiva, como diria Herbert Vianna: “Cuide bem do seu amor.”, ou seja: cultive a autoestima e incentive a autonomia de quem você ama. Pessoas precisam se sentir úteis e valorizadas para resplandecerem em suas melhores qualidades. “Um namorado para a minha mulher” é uma boa pedida para assistir com quem você escolheu para compartilhar a vida!

Em Um Namorado Para Minha Mulher, Chico (Caco Ciocler) está cansado do seu relacionamento e das reclamações da esposa, Nena (Ingrid Guimarães). Após 15 anos vivendo juntos, Chico não tem coragem de perdir divórcio. Ele decide seguir o conselho dos amigos e contrata um amante para sua esposa, o sedutor Corvo (Domingos Montagner), na esperança de que ela se envolva com ele e acabe com o casamento.

Lançado em 01/09/2016, Globo Filmes e Paris Filmes, direção de Júlia Resende.
Indicações: Grande Prêmio do Cinema Brasileiro – Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado.

Não recomendado para menores de 12 anos. Se interessou? Veja tudo sobre o filme na Globo Filmes.

Resenha do livro Amar, Verbo Intransitivo – Idílio, de Mário de Andrade, por Marcelo Elo Almeida

É mais que sabido que Mário de Andrade buscava subverter o que estava estabelecido no Brasil em termos de artes em geral e na literatura em particular. Num contexto de marasmo da década de 20 do século XX, utilizou-se de toda sua inteligência e cultura para apontar novos rumos literários, de modo provocador e sarcástico.

Paulistano, Mário e muitos dos seus amigos são fruto do progresso industrial que se instala na cidade de São Paulo no início do século passado. Intelectual e ativista cultural, sacudiu a literatura nacional com Macunaíma, fundando um novo tipo de herói por meio da valorização da cosmogonia indígena e da musicalidade regional.

O estranhamento do estilo de Mário de Andrade começa na primeira frase do livro, com um intencional erro de pontuação. O início também traz uma cena tomada a partir de seu final, também motivo de incompreensão momentânea. As convenções são abandonadas desde o começo, forçando o leitor a um esforço não só de compreensão do enredo, mas também de adaptação à escrita do modernista. Intervenções do autor ao longo do texto acontecem vez ou outra, técnica tão ao gosto de Machado de Assis.

Por vezes, a leitura fica truncada, de difícil compreensão. Ao longo do texto, ideias aparentemente desconexas vão se sucedendo, sempre de forma deliberada. A fala é extremamente coloquial, com palavras ausentes, frases cortadas e fluxos descontinuados. Se observarmos nossas próprias mentes, veremos que ela não é um fluxo coerente e lógico de pensamentos e ideias, mas muitas vezes sobreposições díspares e incoerentes. Por que a literatura também não pode ser um pouco assim, numa busca do psicologismo mais profundo? Como nas artes plásticas, ângulos perturbadores e cores extravagantes da cena são colocados em relevo, gerando incômodo. Nos mais conservadores, indignação. Mário de Andrade atinge em cheio seu objetivo.

Em “Amar, Verbo Intransitivo”, que precede Macunaíma, Mário toca nas questões morais da época. A começar pelo título, tudo é fonte de provocação. Amar é um verbo transitivo direto; quem ama, ama alguém ou alguma coisa. Os verbos intransitivos completam-se em si mesmos, dão sentido imediato ao pensamento ou à frase, não precisam de objeto. Mas o que amar tem de intransitivo para o autor? A condição inexorável do ser humano, que precisa de afeto e/ou sexo em sua existência. Carlos Alberto ama a princípio devido à puberdade, Elsa pela profissão, Felisberto ama o controle e o dinheiro. Amar pode ter muitos complementos ou objetos, mas esses são circunstanciais. Amar é uma premissa humana. Todos amam, cada um a seu modo, e de acordo com suas necessidades e seus momentos de vida.

A provocação moral fica a cargo da construção da personagem Elsa, profissional de iniciação sexual, uma prostituta da alta burguesia paulistana. Uma alemã orgulhosa e admiradora da cultura musical, mitológica e literária de seu povo. Alta cultura e valores morais questionáveis pela sociedade da época no mesmo personagem? Sim.

Elsa está acima de qualquer suspeita. Trazida para dentro de casa, é uma governanta. Está no interior do lar, não num prostíbulo. É branca, não vai causar repugnância aos pais. Seu filho poderá iniciar-se sexualmente de modo limpo. É muito bem remunerada para a função, não aplicará nenhum golpe, nem cometerá chantagens contra o filhinho indefeso. Não irá dilapidar o patrimônio da família, preocupação mor do patriarca. Enfim, a mulher perfeita para romper as ilusões amorosas do jovem, preparando-o para a grande jornada do pai de família-macho-provedor, de patrimônio preservado e afeto ausente.

O pragmatismo do pai vai além, o faz antecipar-se às necessidades afetivas e sexuais do filho, moldando-o com a forma fria do capital, ao desiludi-lo do amor e do afeto. Racionalismo ao extremo, em nome da acumulação e do conservadorismo.

E, em mais uma provocação, Mário de Andrade apresenta dois momentos finais: um para o Idílio entre Carlos e Elsa e outro para ambos, separados. Mas, sempre, intransitiva e intransigentemente, o Amor.

Fraülein, a professora de amor, é uma personagem marcante da Literatura. Uma heroína independente em um mundo masculino. Nesta história de sedução de um adolescente por uma mulher madura, Mário de Andrade capta como poucos os mistérios da alma feminina. Em “Amar, verbo intransitivo – IDÍLIO”, a alemã se ocupa da instrução dos filhos dos Sousa Costa. A pele rosada, os olhos pouco profundos, a mecha de cabelo loiro presa cem vezes e que torna a cair despertam, aos poucos, o desejo de Carlos. Logo, o menino se vê aprisionado por um sentimento para além do pouco interesse pelas aulas de alemão. O enredo arrancou aplausos de modernistas e críticas de conservadores em 1927. O romance mostra o experimentalismo de Andrade, que se consolidaria em Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. Ao tocar em tema tão polêmico, a presente obra atrai até hoje o interesse dos leitores. Em 1975, o livro inspirou o filme Lição de Amor, de Eduardo Escorel. – Saiba mais…

Devaneios, por Mara Bainy

Estava sentada sozinha e na terceira banqueta do balcão após a entrada dessa cafeteria.  Sentei-me ali, no intuito de ver o tempo passar. É claro que não consegui, durou menos tempo do que imaginei. Entrei na espiral dos Devaneios que meus pensamentos sempre me levam.  Eu sou a Líber, uma mulher adulta, com apartamento próprio, empreendedora, e que tem duas gatinhas para me aquecer nas frias noites de inverno. Pronto, já me descrevi. Não há muito o que saber sobre mim e esse meu novo momento, mas vou contar um pouquinho de mim. Quem sabe assim, o tempo se impele de continuar sambando nos ponteiros do relógio, de gosto duvidoso, que se encontra dependurado por um fio que imita o líquido negro do café caindo em uma xícara.

Namorei-juntei-amiguei-vivi com o Christian por sete anos. No início éramos o complemento um do outro. Sempre estávamos juntos nas festas, nos cinemas, com os amigos [dele], definitivamente, éramos inseparáveis. Christian, era meu príncipe encantado dirigindo um carro vermelho. O ser supremo, para o qual eu abri a minha intimidade mais íntima, aquela que teimamos em dizer que não existe na ilusão da nossa mente. Eu confiava cegamente no Christian, até o dia em que descobri todas as suas traições… E é aí que a verdadeira Líber saiu do casulo e expandiu suas asas da liberdade.

Num primeiro momento, eu desacreditei que haviam homens honestos e fiéis, e foi só por causa desse sentimento nefasto da traição, que me deixei ser levada para A Casualidade. Minhas amigas: algumas antigas e outras nem tanto; algumas casadas e com filhos e outras continuam na busca; algumas que dão importância para intimidade e outras que acham que é apenas o momento acrescentando mais um para suas listas. Enfim, todas elas tinham o mesmo ponto de vista, acreditavam que eu deveria ir à forra, que eu deveria me vingar do Christian e ficar com vários caras. Ah! Assim eu me vingaria de todos os outros homens também [vai entender!!]. Foi o que fiz.

A primeira criatura, digo, homem, que aceitei o convite, eu nem me lembro quem era. Estávamos passando o fim de semana em Paraty, quando esse moço surgiu do nada e começamos a conversar, minha amiga percebeu e foi embora rapidinho, e eu… bom, eu fui para o quarto dele [com ele é claro!]. Na manhã seguinte, minha cabeça doía e eu fugi daquela pousada bonitinha e cheirosa. É meio que óbvio que passei o restante do fim de semana me escondendo para não encontrar o Homem Sem Nome. Tentei relaxar com a experiência, e o fato de a minha amiga estar saltitante e já ter avisado todas as outras, que passei a noite fora e nos braços de um misterioso qualquer, ajudou bastante na tentativa.

E eu vivi por um tempo nessas Casualidades. Os “contatinhos” eram legais, conversávamos, ríamos. Com alguns eu fui a shows de rock, com outros eu fui ao teatro, com um único eu fui a um velório. Só que a dinâmica geral era sempre assim: saíamos, fazíamos o que tínhamos que fazer, para no instante seguinte surgir: O Vazio.  Eu não sou santa, nunca fui, não tenho pudores, mas tenho limites. E eu já me flagrava pensando se era A Casualidade que queria para mim.

Também comecei a perceber as minhas energias. Sim, vou começar com “os papo-doido” das energias do corpo e da alma. Me julgue! Já estou confessando um pouco de mim mesma, falar sobre minhas crenças só vai aprimorar o julgamento. Então, comecei a perceber que estava ficando sem energia para meu cotidiano. Sentia-me sugada, sem fome, sem sede, sem vontade. Foi quando decidi dar um tempo das tais Casualidades. E quer saber? Foi a melhor decisão que tomei nos últimos tempos. Lembra quando falei que saí do casulo e abri as minhas asas da liberdade? Então, foi com essa decisão.

Depois de todas as vivências que tive, a traição que me magoou, as bocas que beijei, os shows que assisti, o velório que fiquei com vontade rir, e até mesmo quando fingi sentir prazer, me fez ver que A Casualidade é a desconexão que nós temos com nós mesmos…Ops! A desconexão em que eu me encontrava. Aprendi que uma mulher se desnuda em seu corpo, mostra a inexistência de seus pudores, no entanto sua intimidade é somente dela [é íntimo demais] e profaná-la é uma agressão ao seu eu. A Casualidade foi a minha escola de autodescoberta, que permitiu que eu encontrasse a verdadeira interação que desejo ter.

Os “contatinhos” já não existem mais, agora eu tenho amigos que me respeitam e sabem quais são os meus limites. Esses não sugam as minhas energias, muito pelo contrário, oferecem um ombro quando eu preciso desabafar, conversar, e até chorar. Agora eu tenho a mim e delibero sobre as minhas escolhas, e o resultado dessa ação vem na forma de autoconfiança. A Casualidade foi excelente para eu expurgar meus medos.

Bom, eu iniciei essa pequena confissão falando que havia sido tirada de meus devaneios, e quem me tirou desse lugar etéreo e escondido [mas que vive querendo se mostrar] da minha mente, chegou. Meu amigo e eu vamos conversar e rir, para depois cada um seguir o seu caminho… Sem Casualidades e Sem Vazio.

Sedução Em Tempos Virtuais, por Kike Cárcamo

O conceito de sedução foi sendo reinventado através do tempo. Segundo o dicionário, sedução, do latim seductione, “é o ato de seduzir ou de ser seduzido, de fascinar, encantar. Capacidade de persuadir ou perverter”. Pode-se dizer que a sedução é um jogo, no qual as pessoas se envolvem para obter algum interesse pessoal, que pode ser conquistar uma pessoa, influenciar alguém para receber uma recompensa, um emprego ou aquisição de um objeto ou dinheiro.

A pessoa que seduz, o sedutor, é dona de um poder de atração e de distração. É uma arte que exige criatividade e ousadia. O interessante é que, muitas vezes, o sedutor não é uma pessoa inteligente, mas, sim, dotada de um carisma ou autoconfiança que conquista as pessoas.

Na Antiguidade

Curiosamente, a sedução não era algo tão atraente, como o erotismo e a prostituição. Os gregos antigos formavam uma sociedade que tinha ideias dissonantes do presente. É no mínimo estranho ler que para os antigos gregos a beleza não estava no corpo feminino. Para o filósofo Sócrates, a existência das Ideias em si era indubitável e o alcance delas seria possível por meio do amor aos belos corpos, que, no caso, eram atléticos corpos masculinos.

Na Idade Média

No século XII, período medieval, atitudes e comportamentos de caráter sedutor ganharam mais intensidade, em virtude do descaramento sexual na corte e da verificação de que existiam muitos homens para poucas mulheres. Isso acabou criando uma ideologia própria por parte da Igreja e da nobreza da época, com o propósito, digamos, de regulamentar o processo de sedução. Assim, surgiu o “amor cortês”, criação dos trovadores de Provença (sul da França), que depois se difundiu para o resto da Europa. Os trovadores “detinham” o poder de seduzir seguindo as regras do Tratado do Amor Cortês, escritas por Andreas Capelannus: elogios à amada e apologia à “pureza” dela.

Durante o período romântico, passou a ser de bom tom o sedutor seguir uma certa etiqueta social: o galanteador fazia uso de cartas, documentos, galanteios durante os sarais musicais e festas, como recursos para seduzir uma donzela. O beijo era um recurso extremo, utilizado apenas pelos mais ousados.

O Século XX, a Mulher e o Cinema

O advento da Primeira Guerra Mundial, entre 1919 e 1918, representou uma grande alteração do papel da mulher na sociedade europeia. Elas saíram do espaço doméstico para trabalharem. Antes relegadas ao papel servil de dona de casa e reprodutora, as mulheres passaram a prestar serviços médicos, de transporte e como cozinheiras profissionais.

O cinema de Hollywood também causou grande impacto em todo mundo, com o surgimento do primeiro galã sensual, Rodolfo Valentino. Entre 1921 e 1926 fez mais de 10 filmes, em que representava sempre o papel de um homem exótico, cavalheiro, dotado de senso moral, com vastas doses de sensualidade – cheia de androginia e mistério, evocando um mundo distante e desconhecido.

Os filmes mostravam o corpo como elemento de sedução, principalmente o da mulher. Foi com “Êxtase” (1933; Direção: Gustav Machatý) que o público cinéfilo ficou chocado. No filme, a atriz sueca Hedy Lamarr nada nua em um lago com os seios à mostra, e, para escândalo geral, interpreta um orgasmo.

Cabe aqui ressaltar o uso da “mulher objeto”, tanto em Hollywood como na Europa, onde a mulher é representada como o “sexo frágil”, sempre precisando ser salva pelo “galante herói” – o macho alfa da narrativa cinematográfica. Isso fica claro em séries como James Bond, Star Wars, Indiana Jones, Batman, Crepúsculo, etc..

Quais são os tipos de sedução, como são os sedutores?

  • O despojado. A principal arma desse tipo é o desapego às artimanhas e jogos de sedução. Autoconfiante, mostra-se como é, conquistando a pessoa pela sua autenticidade. Comumente é ousado, não se deixa intimidar. Surpreende a pessoa desejada.
  • O exibido. É aquele sujeito que se autoadmira. Materialista, valoriza seus dotes e bens e faz questão de exibi-los em público.
  • O dedicado. É o cara que pesquisa o perfil da pessoa desejada e cria um discurso sedutor.
  • O amante latino. Apresenta-se como uma pessoa “quente”, é altamente sedutor. Dependendo da personalidade da mulher ele promete amor eterno ou uma noite inesquecível. É vaidoso, bom de papo, mas foge de relacionamentos. Geralmente, ambiciosa apenas uma noite de sexo.

A sedução nos dias de hoje

Com o advento da internet, as conversas virtuais começaram a deslanchar, facilitando o acesso e a comunicação de várias pessoas com dificuldade de flertar. Por outro lado, há o perigo de a pessoa sofrer assédio de um pedófilo, ou de alguém que deseje vantagens financeiras. Psicólogos alertam para o fato de o flerte via redes sociais ser altamente perigoso, já que o sedutor, na maioria das vezes, não corresponde virtualmente à sua verdadeira personalidade. Nada supera o contato pessoal, “olho no olho”, quando se trata de relacionamentos pessoais.

A frieza dos relacionamentos à distância (e/ou virtuais) pode estar acabando com a emoção que ocorre durante o ato da sedução. Quem algum dia teve a experiência de dançar com alguém em uma festa, ou curtiu um jantar a dois, sabe que o flerte é uma emoção inesquecível, momento em que flui a ocitocina, o “hormônio do amor”. Isso é algo que nenhuma inteligência artificial jamais poderá substituir.

Felizmente, enquanto existir a atração física entre duas pessoas, sempre haverá a possibilidade de um relacionamento íntimo. Viver o tesão, a paixão por alguém é algo inesquecível. Sem dúvida, um dos momentos mais sublimes da experiência humana é viver o amor a dois!

Paixão e Maturidade, por Paulo Câncio

Aos 22 anos de idade, Alberto é um homem cobiçado. Alto, musculoso, corpo bem definido, olhos azuis. Nascido em berço de ouro, cresceu acostumado a obter tudo o que quer. Muitos homens o invejam. Alguns o admiram. Para outros a admiração beira a idolatria. Espelham-se nele e tentam imitá-lo. Um desses idólatras é Felipe. Aos 17 anos, é um seguidor de Alberto na vida real faz três anos. Alberto o incentiva, mas não tem nenhuma consideração por ele.

Felipe fica radiante quando um menina linda, de sua idade, Gisele, aceita seu flerte. Loura com um corpo de miss, desejada por muitos rapazes, virgem. Quando a garota se torna sua namorada, Felipe se sente em um pedaço do céu. Gosta de estar com ela, mas também de desfilar com aquela gata, portando-se como Alberto o faria. Gisele se recusa a fazer sexo. Felipe investe na performance de Alberto. Gisele se empolga. Está encantada com o clone de Alberto. Através de Felipe, vive uma fantasia acessível e segura. 

Alberto resolveu tê-la por diversão. Ela não quer, é fiel ao namorado e tem medo. A atração é forte, assim como os poderes de sedução daquele Dom Juan moderno. Gisele foi usada e abandonada. Felipe está raivoso. Sente-se duplamente traído.  Sai falando que vai dar uma surra em Alberto. Este incialmente acha graça, mas seu ego não tolera essa atitude.

– Vai me bater? – Pergunta Alberto, de modo intimidador. Felipe fica sem ação.  Muitos convergem para o local.

– Você acha que alguém acreditou que ele ia lhe dar uma surra? – Intervém Antônia, amiga de infância de Felipe, com a calma que lhe é peculiar.

– Claro que não – responde Alberto, estufando o peito.

– Por que se importa com isso então? Não acredito que esse comentário possa ter lhe impactado. – As palavras de Antônia fazem Alberto arregalar os olhos.

– Impactar? De jeito nenhum. Esse verme nunca chegará a Alberto. Fiquei com sua namorada por diversão. Você não é nada. – Alberto sai. As pessoas se dispersam até ficaram apenas Felipe e Antônia.

– Perdi minha garota. Não admito traição. Tenho até pena dela. Ela está sofrendo e morre de vergonha aparecer em público. Alberto me humilhou ne vista de todo mundo.

– Dizer que você nunca será ele? Sorte sua. Você queria dar uma surra nele. Mate o Alberto em você. Pare de se vestir e de agir como se fosse ele. Seja você mesmo.

– Você é uma grande amiga, obrigado. – Antônia vai embora, pensando: “Sou uma garota apaixonada por você, disfarçada de melhor amiga”.

Antônia não sai do pensamento de Alberto. Mulheres bonitas ocupavam sua tela mental e ele podia ter todas. Antônia era de beleza mediana, mas aquela calma apagava seu fogo. Resolveu procurá-la. Agradeceu por ela ter impedido que ele fizesse uma bobagem e machucasse o maior de seus fãs. Ela disse que ficou feliz que tudo terminou bem. Ele conversa até chegar no ponto de convidá-la para jantar. Ela declina. Seus ouvidos não podiam acreditar. Insiste, mas parece que suas técnicas de sedução precisariam ser aperfeiçoadas.

O tempo passou. Felipe e Gisele se tornam amigos. O desencanto mútuo os fez amadurecer. Alberto faz várias tentativas de conquistar Antônia, mas ela nunca sequer pestanejou. Ele teve que engolir um desejo reprimido. E talvez tenha amadurecido com isso. Talvez.

– Eu lhe devo muito, Antônia – disse Felipe. –  Graças a você, que viu em mim qualidades que eu não percebia, sou um novo homem. – Ela ri. – Hoje eu sou Felipe … Minha ex-namorada se tornou minha amiga. Estou bem e feliz de ter você como amiga, Antônia.  – Ela ri de modo sem graça. – Não quero que nada abale nossa amizade…

– Por que essa preocupação?

– Por que meu maior desejo é que minha melhor amiga se transforme em minha namorada. Mas se der errado, que a amizade continue.

Silêncio. Depois de alguns segundos, sem se darem conta, estão se beijando.

Consciência de Classe, por Daiane Carrasco

Lembro que eu tinha por volta de onze anos. A professora havia pedido uma redação com o tema clichê “O que tu queres ser quando crescer?”. Como amante da Ciência que sempre fui, escrevi que gostaria de ser paleontóloga e descobrir muitos dinossauros (fato ocorrido antes da febre Jurassic Park, ok?). Dias depois, veio a correção e a entrega das respectivas. A professora ia passando por entre as classes. Entregou a minha.

– Parabéns. Está muito bem escrita. Mas tu achas que vais conseguir ser isso aí… que colocaste no papel? – Eu, como criança sonhadora que era, não entendia o porquê da pergunta.

– Sim, professora. Eu acho que sim… – Mal terminei de falar e ela bateu com a mão vigorosamente na minha mesa, e disse:

– Acorda, menina! Olha ao redor! A maioria aqui vai ser dona-de-casa ou cobrador de ônibus! – Naquele momento, meu mundo desabou. Era a mesma escola que eu frequentava todos os dias, mas passei a enxergar a fossa no meio do pátio transbordando o material fétido dos banheiros, o banco do refeitório cheio de pregos e farpas não polidas que machucavam ao sentar, as grades enferrujadas que lembravam uma prisão – que antes eu me negava a ver. Minha família, meu bairro, minha escola… era tudo pobre. A vida esmagava os sonhos em nome da sobrevivência.

Cresci. Contrariando as estatísticas, passei no vestibular. Optei por um curso elitizado na época: Oceanologia. Meus colegas eram todos de fora da cidade e usufruíam de boas condições financeiras. Teimei em não olhar ao redor e continuava pensando que era uma questão de estudo, de esforço, de merecimento. Podia integrar a turma, ser como eles. 

Eu tinha dezessete anos. Nunca havia me relacionado com ninguém. Era a pobre virgem. Não precisava dizer nada. As roupas e os hábitos provincianos denunciavam tudo o que eu gostaria de suprimir, de esconder. Certa vez, passaram uma lista feita pelos meninos: as mais comíveis da turma. Por mais deplorável que fosse, era natural que eu quisesse saber a minha posição no “ranking”. Qual não foi a minha surpresa quando tive a lista em mãos e constatei que o meu nome sequer constava nela. Nenhum daqueles garotos me olhava, me desejava. A rejeição pública, ainda que abjeta e machista, advertia: eu era a nulidade em pessoa. Senti a mão da professora batendo na minha mesa mais uma vez:

– Acorda, menina! Os pobres são invisíveis!

Terminei a graduação sem ser “comível”. Fui cursar o mestrado no Amazonas, onde tive o meu primeiro namorado que, apesar de jovem, era engenheiro concursado. A remuneração de um estudante de mestrado (para quem não sabe) é muito baixa, mal dá para pagar o aluguel e comer. Eu me virava, economizando todos os centavos. Eu e o dito cujo namorávamos, tínhamos algumas diferenças, mas tudo ia bem. Até…

O digníssimo em questão era gaúcho como eu. Certo dia, os pais vieram visitá-lo. A mãe dele ficou horrorizada ao ver o filho engenheiro namorando alguém que ganhava, na época, míseros oitocentos reais. Passadas duas semanas, ele terminou comigo porque já estava saindo com uma colega de trabalho “que minha mãe adorou”. A professora não falhava nunca:

– Acorda, menina! O que tu estavas pensando? Cinderelas da vida real não existem! Tenha consciência de classe!

Dinheiro, status, aparência – são limitadores materiais e sociais. A gente não fica com o “amor da vida”. Com o menino dos sonhos. Com quem faz listas. Com quem não nos enxerga, mas que gostaríamos que enxergasse. Os relacionamentos são consequência do raio de alcance do círculo social ao qual pertencemos – produto das lutas de classe do capitalismo (sim, Marx tinha razão – não adianta espernear).

O amor não é cego. Será que se Gisele Bündchen tivesse chegado até Leonardo DiCaprio para limpar a privada da casa dele, em vez de através das capas da Vogue, ambos teriam namorado por cinco anos? “Cinquenta tons de cinza” teria feito tanto sucesso se Mr. Grey tivesse levado sua amada na garupa de uma bicicleta por um bairro do subúrbio, ao invés de um passeio de helicóptero? Sabemos as respostas…

Seguiu-se a vida. A professora bateu várias vezes na minha mesa. Até que tudo foi mudando. Fugi da sina da pobreza, fui me tornando mais consciente. Sem dramas – o mundo é o que é. Aconteceu diferente. Um ponto aleatório do encontro da reta de alguém com o raio do meu círculo. Existem muitos príncipes por aí, sem dúvida. Mas o final feliz é alguém que chega e se importa – esse é o amor possível.

Livros Indicados

Os livros que indicamos de alguma maneira nos tocaram, ou tocaram o mundo literário. Muitos deles foram e são ícones do estudo sobre o tema dessa edição do Literato Dente-de-leão.

A Casa da Paixão – Autora: Nélida Piñon

“Havia naquela casa uma emoção de sombra”, lê-se a dada altura de A casa da paixão, romance lançado em 1972 e que marcou época pela forma como trata a sexualidade feminina. Marta, a jovem protagonista, integra a formidável galeria de mulheres poderosas que distingue a literatura de Nélida Piñon. Vivendo entre a latência incestuosa do pai e a submissão quase animalizada de Antônia, sua ama de criação, Marta é afirmativa, destemida e livre das culpas tradicionalmente inculcadas pelo mundo masculino. Seu desejo é solar e, procurando expandir-se, vive em luta surda com o ambiente sufocante da casa paterna. O meio natural é o espaço de libertação de seu prazer. Mas grandes mudanças se anunciam com a chegada de Jerônimo, o pretendente escolhido pelo pai, ameaça de perpetuação do domínio masculino, com inesperado desfecho.
A linguagem do romance é de rara beleza, ao mesmo tempo forte e poética, mas sempre carregada de sensualidade. Como diz o escritor e sociólogo Sérgio Abranches, no prefácio feito especialmente para esta nova edição: “Nélida Piñon é como uma abelha literária, mel e ferrão; tece seu texto com fineza e muitas transgressões.” – Saiba mais…

A Disciplina do Amor – Autora: Lygia Fagundes Telles

Ao publicar A disciplina do amor, em 1980, Lygia Fagundes Telles já era a consagrada autora de três romances e dez coletâneas de contos. Apesar de seu êxito como romancista, muitos críticos tinham apontado a ficção curta como o território de maior maestria da escritora. Agora ela ressurgia experimentando uma escrita mais livre, que despreza as fronteiras entre a ficção e a realidade, a invenção e a memória, o conto e o relato autobiográfico. Estava lançado o desafio à separação rígida dos gêneros literários. O resultado foi um dos livros mais bem-sucedidos da autora, vencedor do Prêmio Jabuti e do prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), agora em nova edição, revista pela autora.
“No princípio era o caderno”, diz logo no início do livro o título de um dos fragmentos, referindo-se aos tradicionais diários das moças de antigamente. Espécie de paródia amadurecida de um discurso da intimidade juvenil, o livro estende sobre o mundo um olhar atento, às vezes desencantado, mas sempre compreensivo e terno, na busca incessante da única hipótese de sabedoria cabível nos tempos modernos: “controlar essa loucura razoável”, seguindo o exemplo da “disciplina indisciplinada” dos apaixonados. – Saiba mais…

Memorial de Maria Moura – Autora: Rachel de Queiroz

Romance maduro de Rachel de Queiroz, Memorial de Maria Moura traz em si todas as características literárias que consagraram a escritora, a primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras. Narrado no Brasil rural do século XIX, o livro conta a saga de Maria Moura, personagem forte e sertaneja. Ainda nova, Maria Moura passa por experiências dolorosas. Perde o pai e depois a mãe. O padrasto a alicia e a violenta. E mais: sua terra, herdada, se encontra sob ameaça de primos inescrupulosos. O agreste, a seca e a solidão poderiam ser os únicos companheiros dessa jornada. Maria, porém, é um retrato da vontade e do desejo da mulher nordestina, que entende o lugar de submissão em que a sociedade e a família querem colocá-la, mas não aceita se contentar com ele. À sua volta reúnem-se personagens apaixonados e leais, que clamam por participar de sua luta por justiça.
O sertão, a liberdade, a violência, a disputa por terras, a religiosidade, a vontade e a emancipação feminina, a amizade e o amor são grandes temas de Rachel de Queiroz, todos tratados nessa obra-prima, escrita quando a autora já contava com 82 anos. Não por menos, Memorial de Maria Moura ganhou o Prêmio Jabuti de Ficção do ano de 1993 e, no seguinte, foi adaptada para uma minissérie homônima na Rede Globo, com Glória Pires no papel da protagonista.
Rachel de Queiroz foi uma mulher extraordinária. Escritora, jornalista, militante contra a ditadura Vargas e porta-voz do Nordeste brasileiro, nunca consentiu ser enclausurada em categorias. Dizia-se “não feminista”, permitia-se a contradição. Nas palavras de Heloisa Buarque de Hollanda, Rachel é “nossa grande literatura feminista […] avant la lettre.” O livro é ilustrado pelo grande gravurista Ciro Fernandes. – Saiba mais…

Playlist A Arte da Sedução – Músicas Nacionais, por Daiane Carrasco

Queridos leitores! Preparei uma playlist especial, para aqueles coraçõezinhos apaixonados, que querem fazer bonito num encontrinho com aquela pessoa que faz a pupila dilatar. Confiram:

Abaixo a playlist completa, só dar o play para ouvir e continuar rolando a página para conhecer um pouco mais da história de cada uma dessas músicas.

Nem um dia (Djavan). Mestre da sofisticação, com letras e arranjos impecáveis, Djavan toca fundo com uma canção que fala de amor, sem ser piegas. “Mesmo por toda a riqueza dos sheiks árabes, não te esquecerei um dia. Nem um dia.” Poético e profundo!
Djavan – Nem um Dia

Estrela (Gilberto Gil). Um ode ao bom gosto. É uma música encantadora, com uma harmonia suave e versos que parecem até uma prece de tão lindos!
Gilberto Gil – Estrela

Amor covarde (Alceu Valença). Alceu tem uma extensa obra e, certamente, muitas merecem estar aqui nesta playlist. Escolhi “Amor covarde” pela estrutura genial: é uma melodia preguiçosa, lenta, mas com um solo de guitarra do Paulo Renato (guitarrista que está presente em muitas gravações de Alceu) e uma voz impostada quando seu eu-lírico fala da dor de amor. E a conclusão, para fechar com chave de ouro: “Nascemos sós e só seremos serenos no fim.” É muita classe, minha gente!
Alceu Valença – Amor Covarde

Beija eu (Marisa Monte/Arnaldo Antunes/ Arto Lindsay). Com versos que se utilizam da repetição de um erro gramatical (não usamos pronomes pessoais do caso reto depois do verbo, de modo que “Seja eu,” “Molha eu” e etc. estão formalmente incorretos), a música nos remete ao contato físico e à aceitação que devem estar presentes nas relações amorosas. Sensual na medida certa, com a voz inebriante de Marisa Monte, é ponto marcado com a pessoa amada!
Marisa Monte – Beija Eu

Só pro meu prazer (Leoni/ Fabiana Kherlakian). “Eu tiro a roupa pra você, minha maior ficção de amor”. Uau! Com um piano que comanda a harmonia e a voz sofrida de Leoni ao interpretar uma letra que evoca o desacerto entre dois amantes, a música arrepia. O que dizer?! Eu não digo mais nada! Só escutem essa obra-prima!
Leoni – Só Pro Meu Prazer

Não vá ainda (Christian Oyens/ Zélia Duncan). Considerada a melhor música do repertório de Zélia Duncan. Letra muito afetiva, sobre a despedida de dois amantes que precisam se distanciar quando a noite chega. Ouve-se um bandolim! Demais!
Zélia Duncan – Não vá Ainda

Trac trac (Fito Paez). Foi regravada em Português pelos Paralamas do Sucesso. Ok. “Lanterna dos Afogados” é o hino de amor dos Paralamas, mas Trac Trac tem a originalidade do arranjo de Fito Paez e o refrão fantástico “Dá-me tu amor, solo tu amor” que colore qualquer momento a dois! Por esta razão, tascou um lugar cativo nessa playlist!
Paralamas do Sucesso – Trac Trac

Refrão de Bolero (Humberto Gessinger). Uma poesia do rock nacional. Apesar de se valer de versos que terminam com uma rima simples (Ana, sacanas, cigana, semana, etc.), as frases de valem de uma simbologia sexy, de um homem que se rende aos encantos de uma mulher cujo nome é… Ana! O instrumental de alto nível, característico dos álbuns dos Engenheiros do Havaí, completa essa maravilha.
Engenheiros do Hawaii – Refrão de um Bolero (Ana)

Pessoa (Claudio Ferreira Rabello/ Dalto Roberto Medeiros). Dalto é um grande compositor da MPB, porém é pouco valorizado. A melodia e a letra intimista fazem de “Pessoa”, consagrada na voz de Marina Lima, uma obra magistral. Não dá para ouvir e permanecer indiferente. Desperta aquela vontade de acalentar quem a gente ama!
Marina Lima – Pessoa

Boa noite, Xangô (Tom Saboia, Alexandre Menezes, Lauro Jose de Farias, Lula Queiroga, Marcelo Falcão, Marcelo Lobato). “Um barco cheio de flor, alguém para te esperar, quando você chegar… ou for.” O Rappa tem músicas memoráveis e essa merece encerrar a playlist: moderna, alegre e cheia de mitologia africana sobre o amor! Maior brasilidade não há!
O Rappa – Boa Noite Xangô

Playlist A Arte da Sedução – Músicas Internacionais, por Daiane Carrasco

O Literato Dente-de-leão sempre prioriza a cultura nacional. Porém, como o Brasil não é uma ilha, aí vai uma playlist sedutora em outras línguas.

Abaixo a playlist completa, só dar o play para ouvir e continuar rolando a página para conhecer um pouco mais da história de cada uma dessas músicas.

Walking after you (Dave Grohl). Composta originalmente para a trilha sonora do filme “The X-files: Fight the future.” É atemporal, com uma melodia lenta e sexy, além de evocar a química estratosférica entre os personagens Mulder e Scully. Um trechinho da letra traduzida: “Eu não posso existir sem você. É fato. Se você se afastar, eu vou atrás de você.” Pode parecer um pouco piegas, mas não importa: é de amolecer até um coração de pedra!
Foo Fighters – Walking After You

Quelqu’un m’a dit (Carla Bruni/ Leos Carax). A beleza da língua francesa, o minimalismo nos instrumentos e a voz quase sussurrada de Carla Bruni são ingredientes afrodisíacos nesta bela canção! “Ele te ama. É segredo. Não diga a ele que eu te contei. Você vê? Alguém me disse que você ainda me amava.” Uau!
Carla Bruni – Quelqu’un m’a dit

Fall at your feet (Neil Finn). No youtube é possível encontrar as versões do Crowded House e do James Blunt. Eu gosto das versões acústicas. “Eu caio aos seus pés e você deixa suas lágrimas choverem sobre mim.” É uma letra intimista e profunda, como um bom romance. O link é do áudio de uma performance de James Blunt.
James Blunt – Fall At Your Feet

Almost (Tracy Chapman). “Quase consegui o que eu queria. Quase encontrei o que eu perdi. Quase salvei a mim e a você. Quase ganhei, mas isso não conta…” É uma música de cadência sóbria, lenta, com a letra melancólica, que nos faz pensar em todos os “almost” (quase) da vida. É ideal para aquele momento olho no olho. Tracy voltou às mídias depois de arrasar no Grammy cantando “Fast car”. Aqui na playlist confirmamos que ela arrasa mesmo!
Tracy Chapman – Almost

I try (David Lee Wilder/ Jeremy Ruzumma/ Jinsoo Lim/ Macy Gray). “Tento dizer adeus e engasgo. Tento ir embora, mas eu tropeço. Embora eu tente esconder, está claro: meu mundo desmorona quando você não está por perto.” A voz rouca e exótica de Macy Gray e os versos apaixonados fazem de “I try” uma canção adorável! Escuta aí!
Macy Gray – I Try

Sweet lullaby (Deep forest, 1992). É uma música gravada originalmente por uma cantora das Ilhas Salomão, chamada Afunakwa, na década de 70. A gravação foi remixada por dois músicos franceses, tocando em diversas rádios pelo mundo e ganhando prêmios. Trata-se de uma canção tradicional, cantada em língua Baegu. Fala de um irmão mais velho, consolando o caçula pela perda dos pais. “Pequeno irmão, pare de chorar. Enquanto você chora, quem irá te carregar? Quem irá te guiar? Somos dois órfãos agora. O espírito deles, da ilha dos mortos, continuará a zelar por nós.” É uma canção tombada pela UNESCO. Ouvir essa música, cantada em um dos idiomas mais antigos do mundo, ao lado daquela pessoa, não tem preço!
Deep Forest – Sweet Lullaby

Holding on to you (Terency Trent D’Arby). “Dizem que todos os poetas têm um amor não correspondido, assim como todos os amantes, tenho certeza, devem ter pensamentos que provocam medo. Mas estar abraçado a você significa deixar a dor ir embora.” Gente do céu! O instrumental, a voz do Terency (que agora se chama Sananda Maitreya), a letra fantástica… são elementos que fazem essa música tão necessária quanto uma taça de vinho!
Terency Trent D’Arby – Holding on To You

Secrets (Dallas Austin/ Madonna/ Shep Pettibone). “A felicidade está em suas próprias mãos. Levei muito tempo para entender como poderia ser, até você dividir seu segredo comigo.” Vindo da Madonna dos anos 90, que “segredo” seria esse, hein?! Não preciso dizer mais nada! Só põe pra tocar!
Madonna – Secret

I wish it would rain down (Phil Collins). “Mas eu sei no íntimo do meu coração que eu nunca a terei nos meus braços novamente. Eu queria que chovesse sobre mim.” É uma canção que fala sobre as consequências de um relacionamento rompido. É sublime. Phil Collins gravou inúmeras vezes, cantando e tocando simultaneamente a bateria. Segundo ele: “Eu queria que meu cérebro estivesse ocupado, movendo os braços e as pernas ao mesmo tempo em que cantava, para que a voz soasse instintiva.” E o solista da guitarra é ninguém mais, ninguém menos do que Eric Clapton!
Phil Collins – I Wish It Would Rain Down

Into the night (Chad Kroeger/ Carlos Santana). Leitores, acostumem-se. Eu gosto de concluir as playlists com músicas alegres. Carlos Santana é sempre uma boa pedida. A letra é quente. “Cada alma no quarto mantinha o tempo nas mãos. E nós cantamos… Ah… em outro lugar, em outro lugar… E as vozes soaram como os anjos cantam. E nós dançamos dentro da noite.” É pra pegar o amorzinho pela cintura e dançar!
Santana – Into the Night

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