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Estamos comemorando o primeiro ano do Literato Dente-de-leão. Nada melhor do que uma festa com muito rock para animar essa galera!
Comemorando a 12a edição, olhamos a estrada percorrida (links serão abertos em nova aba): preconceito (1 ed.), autoconhecimento (2 ed.), vida na periferia (3 ed.), amizade (4 ed.), folclore (5 ed.), samba (6 ed.), a arte da sedução (7 ed.), os novos imigrantes (8 ed.), entrelinhas dos esportes (9 ed.), distopias urbanas (10 ed.) e ativismo ambiental (11 ed.)
A edição de aniversário foi preparada com muito esmero pelos nossos escritores! Ótima leitura!
Sérgio Fernandes
Resenha do livro: A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, por Marcelo Elo Almeida
A Casa dos Budas Ditosos é uma encomenda da Editora Objetiva a João Ubaldo Ribeiro para um projeto literário chamado “Plenos Pecados”. Coube ao itaparicano escrever sobre a luxúria. No prefácio, Ubaldo afirma que o livro é fruto da transcrição de fitas cassetes deixadas em sua portaria com as iniciais CLB. A pessoa identifica-se como uma mulher de 68 anos, nascida na Bahia e residente no Rio de Janeiro. É sabido que baianos como João Ubaldo adoram contar histórias, mas atribuí-las a outros é coisa de gente modesta. Ou sacana. E os baianos tem muito disso e pouco daquilo.
Dedicado às mulheres, é um relato de vida que rompe com praticamente todos os moralismos envolvendo o sexo e suas infindáveis modalidades, circunstâncias e variações. Infidelidade, sexo grupal, incesto, bissexualidade e utilização do poder sexual feminino são alguns dos elementos colocados em destaque em todas as 163 páginas desse manual de choque moral.
João Ubaldo (convenhamos, CLB é só a narradora, personagem ubaldiana) radicaliza o discurso, destacando com cores fortes e não harmoniosas as mais diversas situações da vida de CLB. Como no choque entre o azul e o amarelo de Van Gogh, a narrativa coloca frente a frente moral e prática, buscando um novo olhar sobre o embate entre comportamento social e satisfação sexual das mulheres. Nada que os homens não tenham, sem precisar do embate. Van Gogh causava estranheza e não fez sucesso em vida. Mas depois…
Tudo que confronta requer, sempre, coragem. Estar em cima da corda bamba, encarar o abismo, seguir em frente. “O que a vida quer da gente é coragem.” CLB concorda totalmente com Guimarães Rosa. A narrativa começa com a lembrança de um sonho que as imagens de dois budas lhe provocam. Pelas suas memórias literárias, os budas fazem parte de um ritual de sorte para o casamento. Esfregar as mãos nos órgãos genitais do Buda homem e do Buda mulher traria felicidade conjugal. Veja bem, felicidade conjugal e não fertilidade, fonte de prazer e realização, ideia bem diversa do entendimento do sexo como meio reprodutivo.
A Casa dos Budas Ditosos é um exagero narrativo, isso é óbvio. Mas que se presta ao papel de colocar foco sobre a repressão feminina e todas as regras e limites que emparedam comportamentos e a busca da realização, não só a sexual, das mulheres.
O recurso ao exagero e ao fantástico é uma técnica utilizada das mais diversas formas pelas sociedades em geral. As narrativas, ao superdimensionar certos aspectos em seus discursos, acabam por colocar em destaque assuntos que lhes interessam. Assim é com as máscaras e esculturas em sociedades ancestrais africanas, por exemplo. Seios expostos remetendo à fertilidade e ao cuidado materno, pênis eretos e imensos realçando a reprodução como valor social. Não é gratuito, e causa estranheza e reflexão sobre a questão que se quer abordar. Assim é com as máscaras funerárias dos lumbu, assim é com o sexo grupal de CLB no romance de João Ubaldo.
Assim é também quando as guitarras emitem notas dissonantes, rascando nossos ouvidos, eriçando nossos pelos. Promover jogos sexuais, como a personagem faz, para passar de ano na faculdade é muito Rolling Stones. O limo se perde. A repulsa moral aparece primeiro, mas a vocalização do inconsciente e do reprimido acaba por nos atrair e nos debruça sobre esse exótico que nos agride. Quem é você? Do que você se constitui? Por que você faz tanto barulho? O que alimenta os seus hábitos? CLB narrando seus jogos sexuais com seu tio mais velho, misto de vingança pela infidelidade dele com sua tia e subjugação de um canalha, é a bateria do aprendiz de Alex Van Halen tirando o sono da vizinhança.
Renato Russo debochando dos que zombam das três notas da harmonia do rock. Rock não é harmonia, estúpido. É sobre e a partir das desarmonias do mundo. Não está escutando minha voz? Eu aumento o som pra você. Ou então eu posso esfregar minha prexeca nas suas narinas entupidas, diria CLB.
Tá aí o grande mérito do livro de João Ubaldo: fazer ouvir-se a voz feminina de uma transgressora, que está gritando a partir de um escritor renomado e que já tem seus ouvintes fiéis. Se ele está falando, vou prestar atenção. É um grito que ecoa mais alto na floresta urbana, uma guitarra dissonante, uma bateria microfonada.
CLB não apresenta nenhum traço de arrependimento ou vergonha, apesar de se preservar socialmente. Seus jogos sexuais são privados, mas são sua verdade. Ela a faz aparecer no momento certo, mesmo sem revelar seu nome. Assume-se integralmente em suas atitudes e desejos, realizando-se plenamente. Ao cabo e ao fim, o recado de CLB é o seguinte: eu me realizei do meu jeito, você também pode. É só aumentar o volume de sua voz interior.
A Casa dos Budas Ditosos
Autor: João Ubaldo Ribeiro
Nova edição do clássico de João Ubaldo Ribeiro que marcou época. A casa dos budas ditosos, lançado originalmente em 1999, foi o quarto volume de uma série chamada Plenos Pecados, em que cada título era dedicado a um pecado capital. Poderoso e original, o romance de Ubaldo sobre a luxúria conquistou um número imenso de leitores e, de quebra, cutucou os moralistas de plantão. Em 2004, seguindo o que se tornou uma tradição de seus romances, A casa dos budas ditosos foi adaptado para o teatro por Domingos Oliveira, num monólogo estrelado por Fernanda Torres, que assina a apresentação desta edição. O espetáculo permaneceu por mais de uma década em cartaz, levando as memórias de orgias, voyeurismo e sadismo dessa impagável libertina para mais de 700 mil pessoas em todo o Brasil. A casa dos budas ditosos é um clássico da literatura erótica. Saiba mais…
Filme: Cazuza – O Tempo Não Pára (2004), por Paulo Câncio
O filme encanta por ser repleto de músicas e performances musicais da carreira do cantor e pelo carisma de Cazuza, interpretado magistralmente por Daniel de Oliveira. A história, em si, é conhecida do público, pois, tendo alcançado a fama, a trajetória do personagem foi amplamente divulgada pela mídia.
As primeiras cenas são de um número musical solo, com um figurino que pode lembrar tanto o personagem Carlitos de Charles Chaplin quanto um palhaço. As palavras, o olhar, o tom de voz, os gestos, o modo de entrar no palco – tudo transmite a impressão de algo pueril e infantil. Apesar disso, é uma apresentação que provoca risos em adultos e lhes transmite leveza. O enredo avança com Cazuza conhecendo os integrantes do Barão Vermelho, que ficam impressionados com seu talento. Ele diz que aprendeu a cantar gritando e que quer se divertir. Torna-se vocalista da banda e contribui para seu sucesso. Por outro lado, seus atrasos para ensaios e outras atitudes não profissionais incomodam seus colegas músicos. Talvez por que o que eles encaravam como trabalho Cazuza encarava como diversão.
Envolvendo-se em confusão com outros jovens, vai parar na prisão. Seus pais vão tirá-lo de lá. A chegada dos pais não é vista como um alívio, é mais como uma festa. “Os anjos da guarda mais eficientes do Rio de Janeiro”, ele diz e, ao contrário de estar envergonhado, impõe condição de só sair de lá se os amigos também saírem. O pai se vê forçado a pagar a fiança de todos. Quando, em casa, o pai pergunta “O que é que eu faço com você?”, ele responde: “Deixa que eu faço sozinho”. Cazuza vive uma vida rebelde e inconsequente.
Quando ele desafia a autoridade do pai, dizendo que vai viajar sozinho, mesmo contra a vontade dele, o pai o convida a sair de casa, mas usa sua influência para que uma gravadora apoie seu trabalho musical, como uma forma de manter o filho próximo. Cazuza vive um período de sexo, drogas e rock’n’roll, experimentando de tudo. Entra em conflito com a banda porque tem o desejo de cantar samba. Larga o grupo que está em um período de ascensão. Não é movido pela ambição, mas pelo prazer. É diagnosticado com AIDS.
Cazuza passa um tempo hospitalizado em Boston. Diz aos pais que não vai parar de fumar e que fumará um cigarro para cada refeição, para cada injeção… Os pais exibem um olhar de derrota e resignação, como rendidos à birra de uma criança que já era adulta e não podiam mais controlar.
De volta para casa e, mesmo ainda no hospital, Cazuza prossegue com a produção musical. Ainda executa algumas performances, inclusive da música “O Tempo não para”, hino atemporal, que dá título ao filme. Dentro das limitações impostas pela AIDS, ele vive intensamente e mostra sinais de amadurecimento. Uma de suas últimas frases foi “Morrer não dói”.
“Vida louca, vida, vida breve. Já que eu não posso te levar, quero que você me leve.” (Agenor de Miranda Araújo Neto, Cazuza, 4 de abril de 1958 – 7 de julho de 1990).
Cazuza – O Tempo Não Pára (2004)
Autor: João Ubaldo Ribeiro
A vida louca que marcou o percurso profissional e pessoal de Cazuza (Daniel de Oliveira), do início da carreira, em 1981, até a morte em 1990, aos 32 anos: o sucesso com o Barão Vermelho, a carreira solo, as músicas que falavam dos anseios de uma geração, o comportamento transgressor e a coragem de continuar a carreira, criando e se apresentando, mesmo debilitado pela Aids. Saiba mais… (Wikipédia).
Renato Russo, por Marcelo Elo Almeida
Jornais e um calhamaço de papéis ensebados dentro do carrinho de compras, andar decidido em linha reta, sem concessões. Juntava as Asas Norte e Sul em pouco mais de duas horas. Rareavam as árvores e fazia meia volta, as sombras são amigas. Retomava a marcha, sempre pela alameda principal, as quadras se sucedendo metodicamente, lugar de comércio e, às vezes, alguma alma caridosa que lhe dava de beber e comer. Tudo nele era rotina, inclusive os lábios que pareciam estar constantemente em oração, balbuciando baixinho. Bastava um desapiedado gritar, de moto, do ônibus ou mesmo a pé, para provocar no andarilho gritaria e corrida desenfreadas durante muito tempo:
— Canta, Renato Russo!
— Que país é esse?! Que país é esse!? – A resposta era imediata e constante, só o refrão. Durante horas, a mesma música bradada até à rouquidão, seguida de frases quase ininteligíveis. O trânsito que parasse ou desse meia-trava. Renato Russo estava passando, o pregoeiro do apocalipse. A inflação de 5.000%, a Casa da Dinda, o índio Galdino, que país é esse? Notícia dos anos 90 ainda reverberavam na mente do mentecapto em pleno século XXI, século de negacionistas e defensores de torturadores – parar no tempo talvez fosse o melhor a se fazer. Cabeça parada, imparáveis pernas de Forrest Gump, incansáveis. Só Santo Cristo o acompanhava em sua sina.
Qualquer das tesouras brasilienses servia de abrigo, e ali são muitas. E perigosas. Companhia é sempre bom, ainda mais nas ruas, e João do Santo Cristo era um fiel amigo para todas as horas. Dividiam marquise, papelão e comida. Protegiam-se mutuamente e se tornaram inseparáveis. Quem tentasse maltratar Santo Cristo, era assim que ele o chamava, pelo sobrenome, era repelido com gritos. Por sua vez, quem se aproximasse maldosamente de Renato Russo era afastado com rosnados. Se insistisse, com mordidas. Perigo afastado, voltava a se enrodilhar ao lado de seu amigo. Não tinha medo o tal João do Santo Cristo, era o que todos diziam.
As poucas horas de sono não eram mais tranquilas do que as que passava acordado. Revirava-se constantemente, gemidos e gritos incontidos iam e vinham. Santo Cristo já se acostumara e apenas levantava olhos e orelhas. Conhecesse a sua vida anterior, entenderia a tragédia de seu amigo bípede. Os quatro-patas costumam ser sensíveis e compreensivos. Voltava a balbuciar, olhos injetados e fixos no céu vermelho do amanhecer brasiliense, medo de que a qualquer momento aquele mistério pudesse desabar. E se você visse, nosso corpo em chamas…
— Vamos, Andrea Doria! – Santo Cristo rosnava, quem é essa cadela? – Não gostava que trocassem seu nome, mas ia.
— Canta, Renato Russo!
E o pesadelo da noite anterior voltava e tudo se misturava dentro dele. Fatos e jornais, felicidade e tragédia, música e colisão, beleza e tragédia.
Tese aprovada com louvor, pilequinho, noite fresca, comemoração, rodopio de alegria: – Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver/ o mundo anda tão complicado e hoje eu quero fazer tudo por você / Gosto de ver você dormir, que nem criança com a boca aberta… Cantoria interrompida pelo voo imprevisto de Bianca por longos dez metros.
A sua Bianca, agora uma Andrea Doria prussiana, atropelada por um bêbado na madrugada porque soltara a sua mão para dançar pela calçada de um quarteirão qualquer. No chão, num piscar, estatelada à sua frente, cabeça virada em sua direção, olhos frios, sem foco, boca entreaberta, dentes quebrados.
— Mas percebo agora / que o teu sorriso vem diferente / quase parecendo te ferir – e a ladainha era retomada em marcha reta. Santo Cristo fazendo a segunda voz, o pesadelo da noite anterior tomando por completo aquela pobre mente. – E depois do começo, o que vier vai começar a ser o fim. Deus, Deus, somos todos ateus.
O Movimento Grunge, por Mara Bainy [by Me]
Eu era uma adolescente sobrevivendo na Megalópole Cataclismática, apelido carinhoso que os locutores China Kane e Jai Mahal da Rádio Brasil 2000 FM chamavam a cidade de São Paulo. Eu estudava e já trabalhava. A vida na cidade grande tem um preço muito alto, principalmente para adolescentes que cresceram em lares disfuncionais, como eu. Em 1989, me preparava para votar pela primeira vez na primeira eleição direta depois da Ditadura Militar que imperou no Brasil por 21 anos. Não posso deixar de lembrar que foi o ano da queda do Muro de Berlim na Alemanha Oriental e do famoso vídeo do homem solitário impedindo a passagem dos tanques de guerra, no evento que ficou conhecido como o Massacre da Praça da Paz Celestial na China. Enfim, 1989 foi um ano que não marcou somente a minha vida, mas também a de todos no planeta.
O grunge chegou em São Paulo naquele ano. Nas rádios, as canções do momento eram as sertanejas, que haviam perdido o regionalismo e ganhado o status de mainstream com as duplas cantantes e suas vozes agudas declamando o amor meloso. O rock, que até bem pouco tempo galgava as primeiras posições das TOP 100, principalmente o pop-rock nacional, com artistas como Lobão, Blitz, Inimigos do Rei, Legião Urbana, Capital Inicial e Paralamas do Sucesso, foi sendo escanteado para seu local de origem: o underground. E eu estava lá, como uma testemunha ocular, mas que vivia e sentia na pele a sua resistência.
Os finais de semana eram o ponto alto para a resistência roqueira, com os pequenos shows que aconteciam na Galeria do Rock, no Centro Cultural Vergueiro, na Woodstock Discos, na praça Pôr do Sol e na Praça do Relógio. Lembro-me que foi num desses pequenos shows que assisti à Plebe Rude e ao Sepultura pela primeira vez. No entanto, e mesmo após tudo o que explicitei acima, essa geração de adolescentes do ano de 1989 era órfã.
É um tanto irreal afirmar que éramos órfãos, mas nós éramos! A geração que veio para mudar o mundo sentia um peso enorme nas costas e não sabia dizer exatamente que peso era esse. Nós não podíamos reclamar, pois tínhamos acessos a coisas que nossos pais nem sonhavam em ter. Éramos os eleitos, sem saber o que iríamos governar. Estávamos perdidos, a geração de transição entre o analógico e o digital, entre o abstrato e o concreto, entre as rádios AM e FM, entre o sonho e a realidade, entre o que ‘eles’ diziam ser certo e o que ‘nós’ julgávamos ser o certo.
Foi com esse sentimento de vazio, numa matinê de domingo na Up and Down que escutei a Stardog Champion do Mother Love Bone. Mas não apenas ‘eu’. Eu e a geração que vivia na resistência roqueira. Adolescentes que se viravam para tentar aprender a ser ‘gente grande’. Nós já tínhamos a Plebe Rude e o Sepultura, mas ainda assim, era pouco para aplainar o vazio e a dor de ser órfão em um mundo cheio de cobranças. Agora nós também tínhamos a voz das canções que descreviam as batidas vazias dos corações adolescentes que precisam bater como adultos. Eu enlouqueci quando escutei Stardog Champion, pensei: “Que cazzo de música é esta? Quem está cantando?” Sabia que tinha encontrado algo que explicava a minha dor.
No final de semana seguinte, teve um show na Galeria do Rock, e mais uma vez, umas amigas e eu nos vestimos de preto, com camisetas de banda, e caminhamos da Aclimação até a Praça da República para encontrarmos a nossa nação, a Nação Roqueira. E foi ali que eu escutei Flower Web e Black Sun Morning do Screaming Trees e entrei em êxtase. O grunge entrou na minha vida muito antes do Nirvana com Smeel Like Teen Spirit ganhar o mundo e virar um hit comercial.
Daquele dia em diante, passei a garimpar os dials das frequências das rádios FM para saber mais sobre as músicas que falavam sobre mim. Gravei uma fita cassete (sim, naquela época eram fitas cassete e LPs) com as canções do Mother Love Bone e escutava dia e noite no meu walkman. A sonoridade, as batidas graves da bateria e o baixo do Andy Wood eram tudo o que eu precisava escutar. E não foram somente as canções. A forma de se vestir ditou muito mais do que qualquer outro movimento. Roqueiros que somos, já temos o nosso estilo. Sabemos que o tênis-jeans-camiseta (da banda favorita, é claro) serve para toda e qualquer ocasião, desde um simples passeio até um casamento. O grunge aprimorou a indumentária ao inserir a camisa xadrez (de preferência de flanela, tenho a minha até hoje), mas também permitiu que nós, meninas, pudéssemos nos arrumar melhor. O que era um uniforme roqueiro ganhou um ar sofisticado e ao mesmo tempo descontraído, principalmente para aqueles de grana curta, muito curta.
Um dos pontos altos da minha vida grunge foi quando escutei Alive do Pearl Jam. O refrão que diz ‘Eu ainda estou vivo” fez tanto sentido para o momento que eu estava vivendo, que juntei dinheiro para comprar o LP (tenho até hoje) e escutar a banda que tocava com alma. Ah! Neste dia eu comprei, também, o LP do Temple of the Dog, a banda formada pelos caras do Soundgarden e do Pearl Jam para homenagear o Andy Wood, que era muito amigo do Chris Cornell, já falecido também.
O grunge foi meu grito de liberdade. Aliás, meu e da minha geração. O rock e o grunge me mantiveram na tênue linha do certo, perante aquilo que é errado, me deu colo quando precisei e soube me aconselhar nos momentos mais difíceis.
Hoje, aqueles adolescentes são ‘gente grande’, e eu estou inserida nesta egrégora que se segurou em um movimento musical para manter a mente sã. O grunge salvou muitas vidas, mesmo que vários de seus protagonistas tenham morrido de overdose. O grunge é perpétuo, suas letras, canções e músicas zelam pelas dores contemporâneas. Ele foi o pai e a mãe da minha geração.
Os Brutos Também Amam, por Cláudia Borges
Muito clichê? Talvez seja. Quando olhamos para uma banda de rock – as roupas pretas, os cabelos compridos, o som potente da bateria e dos riffs de guitarra – parece-nos tudo muito excêntrico. O rock é um modo de vida. Um mundo cheio de viagens, shows, glamour, groupies e, também, drogas.
A despeito da idealização de que todo o rock star tem o mundo a seus pés (e muitos têm mesmo), nem tudo é um mar de tulipas negras. Os músicos deixam a família em casa enquanto saem em longas turnês. Relacionamentos, por muitas vezes, não resistem às ausências de uma vida na estrada, falta de rotina e exaustivas sessões de ensaios e gravações em estúdio. É um universo de alta rotatividade de parceiros e, consequentemente, casamentos desfeitos.
Há histórias de amor que resistem às provações. Paul McCartney e Linda, Bono e Ali, Bon Jovi e Dorothea – são alguns exemplos de uniões duradouras e bem sucedidas. O “amor dos brutos” fez surgir belas canções que nós, meros mortais e ouvintes de boa música, ganhamos de presente. Destaco aqui algumas dessas maravilhas.
Angie (Keith Richards/ Mick Jagger). Atire a primeira pedra quem nunca plantou feijão no algodão e quem nunca se emocionou com estes versinhos: “Sem amor em nossas almas/ e sem dinheiro em nossos casacos/ Você não pode dizer que estamos satisfeitos. / (…) Angie, você é linda, sim. / Mas não é hora de dizermos adeus?”! A canção foi escrita por Keith Richards enquanto estava em um centro de reabilitação. Na mesma clínica estava dando à luz sua mulher. A música não é uma dedicatória à filha, Dandelion Angela, mas foi tocada em 1998 em seu casamento. Em sua biografia, Richards afirma que Angie seria a heroína e a canção, uma tentativa de ficar livre da droga. Uma relíquia que foi desprezada por alguns críticos de rock no ano em que foi lançada, 1973. Hoje é uma poesia épica, composta por um angustiado e sensível roqueiro!
Nothing else matters (James Hetfield/ Lars Ulrich). Com versos como: “Tão perto, não importa quão longe/ (…) A vida é nossa, nós a vivemos do nosso jeito/ (…) Confiança eu procuro e encontro em você/ (…) E nada mais importa.”, a letra trata da vida longe da família, do quanto é duro manter-se distante da pessoa amada. Criticada pelos produtores da banda, haja vista que o Metallica toca heavy metal e a letra invoca um “homem frágil”, James e Lars bateram o pé e gravaram assim mesmo. Ironicamente, tornou-se um dos maiores hits do Metallica, sendo elogiada por nada mais nada menos do que Sir Elton John! Brutos têm coração e nada mais importa!
Wasting love (Janick Gers/ Bruce Dickinson). A canção é um das mais sinceras confissões de roqueiro: “Talvez um dia eu seja um homem honesto/ (…) Longas estradas, longos dias/ Do nascer ao pôr do sol/ (…) Passe seus anos cheios de solidão/ Desperdiçando amor, numa carícia desesperada.” A infidelidade é uma constante no rock: músicos famosos têm um harém de mulheres disponível após os shows, as “groupies” – com são chamadas as garotas que buscam sexo casual com estrelas. O próprio Bruce Dickinson disse que se cansou desse estilo de vida quando encontrou o amor de verdade. Pode ser melosa e trivial, mas meus ouvidos gostam do que ouvem.
O rock é uma arte. Quando pessoas têm o dom, transcendem seus sentimentos para sua arte. Rock também é vida real. A música transbordará tudo o que é humano.
Rock Brasil – Anos 80, por Marcelo Elo Almeida
— Em Brasília, dezenove horas.
Hora do crepúsculo, hora da Voz do Brasil, programa oficial do governo, de difusão obrigatória para todas as rádios de segunda a sexta, e que trazia sempre um narrador de voz empostada, qualquer que fosse ele. Criado no governo Getúlio Vargas, é muito mais antigo que a própria capital.
Brasília nasceu linda, muito bem pensada e planejada, apesar de seus pais um tanto irresponsáveis que se endividaram totalmente para dar concretude ao projeto. E põe concreto nisso. Aos quatro anos de idade, é raptada pelos militares, sujeitos cansados de pintar meios-fios dos quartéis e sentir dor nas costas, que resolveram brincar de casinha. E não aceitavam opinião de ninguém, eles é que sabiam o que tinha que ser feito. Fizeram embelezamentos que os envaideciam (pontes, hidrelétricas, usinas, rodovias rasgando florestas), gastando o que não tinham, ao mesmo tempo em que mandavam calar a boca dos moradores que se opunham, muitas vezes para sempre. Esqueceram de cuidar dos pobres, desdentados e analfabetos, as verdadeiras fundações daquela frágil construção. Gastaram muito mais do que o orçamento doméstico permitia, sacrificando a todos. Os que tinham emprego, perderam; os que já não tinham, morriam de fome em todos os rincões desse lindo quartel, ops, dessa linda casinha chamada Brasil.
Cansaram da brincadeira. Tem umas rachaduras imensas aqui na sala. Você viu as goteiras nas cozinha? Que horror! A nossa casinha anterior era muito melhor cuidada. Vamos devolver? – perguntavam os mandachuvas entre si, recolhidos nos seus quarteizinhos, ops, quartinhos. Vamos! Aí eles vão poder fazer a tal das eleições que tanto querem! O que é isso, eleição?
Pois é. Pensaram pouco, pra variar, e não se lembraram também dos pirralhos espinhentos, tocadores de guitarras esporrentas, vociferando palavras de ordem e revolta em microfones surrados pelas Asas de Brasília, que teimavam em bater, livres. As Asas de Brasília, por extensão, as do Brasil.
Endividado, bancarrota blues na vitrola, desaprendendo dia-a-dia o que é democracia, povo pobre, seca no Nordeste, povo desdentado, inundação de benesses para os apaniguados. Eu prendo, eu mato, eu arrebento – ter que escutar os relinchos do ditador de plantão, o que podia resultar disso? Claro, os garotos filhos da burguesia brasiliense só poderiam se tornar um bando de alienados, ouvindo músicas que eles não entendiam as letras. Mas entendiam a revolta nas notas dissonantes e nos solos distorcidos. A plebe rude representada, a urbe e sua legião de famélicos, alguém lhes dá voz. Alienados?
Capital Inicial, Legião Urbana e Plebe Rude inalavam o odor daquelas ruas que tinham cheiro de gasolina e óleo diesel. Juntaram a cultura que eles consumiam, punk rock inglês, com o mundo feio à sua volta e criaram uma nova forma de se fazer ouvir, em vez de apenas dedilharem violões com letras de duplo sentido político, como na década anterior. Já que não vai de modo suave, vamos vociferar até explodir as caixas de som e os ouvidos dos milicos.
Será verdade, será que não, nada do que posso falar, e tudo isso para sua proteção, nada do que posso falar. Que país é esse? Tanques lá fora, exército de plantão, apontados aqui pro interior, e tudo isso para sua proteção. As ruas têm cheiro de gasolina e óleo diesel. Somos os filhos da revolução, somos burgueses sem religião, somos o futuro da nação.
Com tanta riqueza por aí, onde é que está, cadê sua fração? Quem me dera ao menos uma vez ter de volta todo ouro que entreguei a quem conseguiu me convencer que era prova de amizade. Quem me dera ao menos uma vez que o mais simples fosse visto como o mais importante, mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente. Até quando esperar a plebe ajoelhar?
Rock, coisa de alienado. A bem da verdade, réquiem para aqueles que baixavam à cova, quepes sobre os caixões, em volume pouco respeitoso com as viúvas de plantão. E que a lei do retorno não se aplique a eles.
Livros Indicados
Já experimentou ler livros de contos? Ainda não? Aqui está a oportunidade. Indicamos a nata dos contistas!
Vila Sapo
Autor: José Falero
Eis aqui sete histórias escritas com força ímpar e altíssima voltagem literária. Publicado originalmente em 2019, Vila Sapo imediatamente chamou a atenção para José Falero, até então um jovem e desconhecido autor vindo das quebradas de Porto Alegre. Desde aquele momento, o livro apresentou a críticos e leitores um escritor já dotado de uma variada gama de recursos, modulando em cada história a voz das ruas com um refinado registro literário. Saiba mais…
Rútilos
Autora: Hilda Hilst
O livro. Rútilos é a reunião de duas obras consagradas de Hilda Hilst: Rútilo Nada e Pequenos Discursos. E um grande. A ideia inicial de juntar os livros é de Alcir Pécora, professor de teoria literária na Unicamp e responsável pela edição e pelo plano de edição das obras de Hilda Hilst publicadas pela Editora Globo. “Rútilo Nada é uma espécie de forma expandida de uma das novelas de Pequenos Discursos, cujo personagem tem o mesmo nome nos dois casos: Lucas. O mais interessante é que Rútilos junta e ressalta nas formas de tirania social e política expostas nos Pequenos Discursos a da opressão sexual, familiar e amorosa”, explica o professor.
Com Rútilo Nada, Hilda ganhou o Prêmio Jabuti de melhor conto em 1993. O texto disserta sobre uma trágica história do amor entre dois homens e discute a questão homoerótica em relação à estudos culturais contemporâneos.
Já Pequenos discursos. E um grande é conhecido pela redação que consegue levar ao leitor uma visão opressora e rígida do convívio na sociedade. “A ideia de colocar os dois textos juntos surgiu quando percebi a relação entre os personagens. Nisso está clara a articulação que Hilda faz entre as formas políticas e sexuais de repressão”, diz Pécora. Rútilos, no entanto, foi o título dado pela própria autora à junção das suas obras. “Eu sei o que significa a palavra no português, isto é, o mesmo que rutilante: “um brilho que ofusca”. Há, portanto, ironia no título quando o que brilha intensamente é o “nada”. Quando propus juntar as novelas, Hilda logo pensou que o melhor título para o novo volume era Rútilos. Disse que preferia um título curto e incisivo”, declara o professor. Saiba mais…
Morangos Mofados
Autor: Caio Fernando Abreu
O mais célebre livro de Caio Fernando Abreu. Inclui posfácio inédito de José Castello.
Em sua obra mais célebre, publicada em 1982, quando tinha trinta e quatro anos, Caio Fernando Abreu faz transbordar de cada página a angústia, o desassossego e o estilo confessional que o consolidaram como uma das vozes mais combativas e radicais de sua época. A prosa visceral dos dezoito contos de Morangos mofados ― potencializada pela hesitação coletiva de um país que vislumbrava a redemocratização ante a falência incipiente do regime militar ― traduziu as inconstâncias humanas mais profundas e continua, ainda hoje, arrebatando leitores de todas as gerações. Leitura obrigatória do vestibular da UNICAMP. Saiba mais…
Playlist Nacional do Rock, por Daiane Carrasco
Geração Coca-Cola – Legião Urbana – (Renato Russo). Renato Russo foi um dos maiores compositores que o nosso país já conheceu, sem sombra de dúvidas. Aqui ele critica o imperialismo cultural norte-americano de forma magistral, rotulando sua geração com a alcunha de “Coca-Cola” – a maior multinacional dos States até então. Sensacional!
Até quando esperar? – Plebe Rude – (Carlos Augusto Woortmann/ André Philippe de Seabra/ André Pinheiro Machado Mueller). “Com tanta riqueza por aí/ Onde é que está? Cadê sua fração?”. Dispensa maiores explicações. Aperta o play!
Flores – Titãs – (Antônio Bellotto/ Charles Gavin/ Paulo Miklos/ Sergio Affonso). Uma das músicas mais queridas dos Titãs! “A dor vai curar essas lástimas. / O soro tem gosto de lágrimas. / As flores têm cheiro de morte. / A dor vai fechar esses cortes.” Poética, mas com uma batida punk-rock!
Decadence avec elegance – Lobão – (João Luiz Woerdenbag Filho). Composta após o término do seu namoro com Monique Evans, a “decadência com elegância” traduz o espírito rebelde de seu autor: “E no final da madrugada, perambulando pelos bordéis/ Décadence é melhor viver/ Dez anos a mil/ Do que mil anos a dez.” Um clássico!
Pense e dance – Barão vermelho – (Roberto Frejat/ André Palmeira Cunha/ Flávio Augusto Goffi Marquesini). Trilha sonora de uma das maiores vilãs das novelas brasileiras – A Maria de Fátima, de Vale tudo, interpretada por Glória Pires – essa música mostra que Frejat é um grande guitarrista e vocalista! Vale tudo, cada segundo!!
Música urbana – Capital Inicial – (Andre Pretorius/ Felipe Lemos/ Flavio Lemos/ Renato Russo). Em um ensaio na casa dos irmãos Lemos, surge esse hino do rock nacional. Voltando para casa de uma festa, Renato Russo teve a inspiração para a letra: passando perrengue como qualquer um de nós! Andando a pé, de carro, de ônibus! Sente o som!
O beco – Paralamas do Sucesso – (Bi Ribeiro/ Herbert Vianna). Fortemente influenciados pelo ska, uma espécie de rock da Jamaica, os Paralamas gravaram essa maravilha! Os metais, a bateria e o baixo nessa música são impecáveis. A temática é atemporal: a crítica à indiferença diante da violência urbana. Põe pra tocar e deixa!
Pitty – Pulsos – (Martins Mendonça/ Priscilla Novaes Leone). Lançada em 2007, com uma letra potente, que fala de depressão e suicídio. Pitty provou que estava à frente do seu tempo. “Tenta achar que não é assim tão mal, / exercita a paciência. / Guarda os pulsos pro final, / saída de emergência.” Acabou se tornando um hino de resiliência entre os adolescentes que sofrem do mal do século XXI. Assim, ganhou lugar cativo na playlist do rock nacional!
Perto do fogo – Rita Lee – (Rita Lee/ Cazuza). Uma belíssima parceria que rendeu essa canção de alto nível. A letra é uma metáfora: fala da necessidade que o ser humano tem de ficar próximo ao poder, na figura do fogo. Tem uma aura mística: foi gravada no mesmo dia em que Cazuza morreu, em 07 de julho de 1990.
O tempo não para – Cazuza – (Agenor de Miranda Araújo Neto/ Arnaldo Pires Brandão). Legado definitivo de Cazuza para todo o sempre. “Mas se você achar que eu estou derrotado, saiba que ainda estão rolando os dados, porque o tempo… o tempo não para.” Versos que arrepiam, principalmente porque nessa fase Cazuza já tinha a aparência muito frágil, com o corpo debilitado pela AIDS. É a obra-prima de um dos nossos maiores poetas contemporâneos.
FAIXA EXTRA: Smells like teen spirit (David Eric Grohl/ Krist Novoselic/ Kurt Donald Cobain) – Cássia Eller. Saudosa musa do rock! Ousada, transgressora, cantando o hit mais famoso do movimento grunge, com sua voz de trovão. Representou brilhantemente a nação roqueira brazuca!
Playlist Internacional do Rock, por Daiane Carrasco
Rocket man – Elton John – (Elton John/ Bernard Taupin). Lançada em 1972, consolidou um subgênero do rock chamado “piano rock”. Várias bandas beberam dessa fonte, como o Keane, por exemplo. A batida principal marcada pelo piano, tocado de um jeito único por Sir Elton John, fazem de Rocket man uma balada atemporal.
Immigrant song – Led Zeppelin – (Jimmy Page/ Robert Plant). Embora Starway to Heaven seja a balada por excelência do Led, Immigrant Song é icônica. A letra faz alusão às conquistas dos vikings, e o gritinho “Ah-ah-ah-ah” do Robert Plant, imitando um grito de guerra antes da batalha, é um show à parte!
Rebel rebel – David Bowie – (David Bowie). “Não tenho certeza se você é menino ou menina.” David Bowie, eu te amarei eternamente!! Décadas antes de se discutir diversidade sexual, ou de gêneros, pessoas não binárias, enfim… O grande mestre já cantava sobre isso com propriedade em 1974! Libertário, gênio!
Dream on – Aerosmith – (Steven Tyler). Steven Tyler escreveu essa canção quando tinha apenas 19 anos!! “Toda a vez que me olho no espelho/ Todas essas linhas no meu rosto ficando mais claras/ O passado se foi/ Passou como o anoitecer ao amanhecer.” O moleque profetizou seu futuro e virou uma lenda do rock!
Wish you were here – Pink Floyd – (David Jon Gilmour/ George Waters). Composta como um ode à saudade do companheiro Syd Barrett, é uma daquelas músicas comparadas à Mona Lisa do Leonardo Da Vinci: você precisa conhecer obrigatoriamente! Tudo é lindo: o instrumental, a letra, o vocal… Jovens, ouçam Pink Floyd!
Killing in the name – Rage against the machine – (Tom Morello/ Timothy Commerford/ Zack De La Rocha/ Brad Wilk). Com uma letra que critica o racismo e a violência policial, é uma das músicas mais relevantes do rock dos últimos tempos. Interpretada por orquestras, bandas escolares, tocadas em protestos ao redor do mundo, “Killing in the name” escreveu seu nome na história!
Sunday bloody Sunday – U2 – (Paul David Hewson/ Adam Clayton/ Larry Mullen/ Dave Evans). Uma das canções mais politizadas do U2, aborda um confronto sangrento na Irlanda do Norte, no qual tropas britânicas assassinaram civis desarmados em Derry, 1972. A música tem detalhes que fazem dela uma obra de arte, como o vocal sofrido de Bono Vox e a bateria de Larry Mullen no início simulando tiros e no meio da canção cadenciada como uma macha militar. A nata do rock, minha gente!
Zombie – The Cranberries – (Dolores O’Riordan). A voz de anjo da saudosa Dolores, a letra que protesta contra a irracionalidade das guerras, o solo de guitarra e a batida triste da bateria são ingredientes que fazem de “Zombie” uma das canções mais bonitas da década de 90.
Alive – Pearl Jam – (Eddie Vedder/ Stone Gossard). “Eu ainda estou vivo”. A história pessoal do vocalista, Eddie Vedder, que descobre que seu pai biológico era, na verdade, um amigo próximo da família, que havia acabado de falecer, deu origem a este hino. Tem todos os elementos do grunge: letra angustiada, guitarra destorcida, bateria potente. E é por isso que é bom demais!
Toxicity – System of a Down – (Daron V. Malakian/ John Dolmayan/ Serj Tankian/ Shavo Odajian). Rock made in Armenia! Com músicas pesadas e icônicas, como “B.Y.O.B” e “Chop Suey!”, System of a Down mostrou-se uma banda com pautas políticas, ambientais e sociais em suas letras. “Toxicity” tem um refinamento especial, com uma poderosa linha de baixo e bateria. Além disso, é icônico ouvir o vocalista Serj Tankian gritando a desordem do mundo e a redenção: “Quando eu me tornei o sol/ Brilhei vida no coração dos homens.”
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Além do Mulherio das Letras, participa do coletivo Escritores de Quinta e Poetas Papareia e dos grupos de pesquisa Poéticas Orais e Pensamento Decolonial e Literatura e Identidade na América Latina
Coautora do Livro Delírios de Quinta