Edição 18 – Tempo para rever tempos – Janeiro 2025

Edição 18 – Tempo para rever tempos – Janeiro 2025

Introdução | Resenha do livro: Capitães da Areia | Filme: A Viagem de Pedro | Tempos de Solidão | Tempos de Violência | Tempos de Tarja Preta | Tempos de Uberização | Tempos de Diversidade | Livros Indicados | Corpo Editorial | Escritores da Edição

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Janeiro é tradicionalmente o mês da esperança. Quando mudamos a folhinha do ano anterior para o ano novo, um calendário novinho, abre-se uma perspectiva de que tudo vai ser melhor, de que seremos capazes de corrigir erros, de investir no novo, de fazer diferente. Perdemos momentaneamente a racionalidade. Medir o tempo é algo arbitrário, nada mais é do que um dia após o outro.

Assim, o primeiro mês do ano é “um tempo para rever tempos”. Nesta edição, preparamos algumas reflexões acerca do mundo contemporâneo. Sempre ouvimos dos mais velhos: “Ah, mas no meu tempo era melhor!” Será? E se for, por que era melhor? Esperamos sair do mais do mesmo, abordando novas perspectivas do cotidiano, da vida.

Boa leitura a todos!

Resenha do livro: Capitães da Areia, por Paulo Câncio

Tempos de Amizade

Os Capitães da Areia, como eles próprios se denominavam, eram um grupo de meninos, órfãos de pai e mãe ou simplesmente abandonados, com idade variando entre 5 e 16 anos, que moravam em um trapiche (depósito) abandonado que ficava à beira-mar, na cidade de Salvador. Viviam de roubos, sendo temidos como ladrões adultos. O jornal “A Tarde” trazia reportagens sobre os Capitães da Areia, indicativo de que se trata de um romance inspirado em fatos reais. Ao final do livro, há uma nota de Zélia Gatai Amado afirmando que Jorge Amado dormiu alguns dias com os meninos no trapiche. Como o autor teve interação direta com os personagens, é de se esperar uma veracidade maior no conteúdo do livro, ainda que possa ser admitida a possibilidade de partes fictícias. Além de Jorge Amado, outros adultos tinham proximidade com os Capitães da Areia.

O padre José Pedro se referia a eles como “crianças”. Conquistou a confiança deles e sua meta era salvar as almas dos meninos, direcionando suas vidas para um reto caminho e oferecendo-lhes conforto espiritual.

Dona Aninha era uma mãe de santo. Certa vez recorreu ao bando para recuperar uma imagem de Ogum que havia sido levada pela polícia.

Querido-de-Deus era um capoeirista e ensinava-lhes alguns golpes. Atuava, também, como intermediário de terceiros dispostos a pagar por algum serviço envolvendo furtos. Muitas vezes o contratante duvidava de que os meninos fossem capazes de dar conta da demanda, mas o nome “Capitães da Areia” e a referência dada finalizavam a contratação do serviço. 

João de Adão era um estivador que transferia a Pedro Bala, chefe do bando, a deferência que tinha por seu pai, um estivador que morreu lutando pelos direitos da classe. 

 Pedro Bala não foi o primeiro líder dos Capitães da Areia; seu perfil de liderança e sua habilidade para planejar os crimes lhe conduziram ao posto. No planejamento dos furtos, o principal apoio vinha de um menino denominado como “Professor”, que obteve a alcunha porque lia muitos livros obtidos em furtos e era um desenhista nato. João Grande era alto, forte, pouco inteligente e grande também no coração. Sem Pernas era coxo e cheio de ódio; conseguia acesso a algumas casas, apresentando-se como um pobre aleijado órfão, descobria onde as coisas de valor estavam guardadas e passava a informação para o grupo. Pirulito foi o mais tocado pelo padre José Pedro que lhe incutiu a mansidão e o hábito de orar. Gato era um Dom Juan com uma lábia que superava muito homem adulto. Dentre eles, estava também Volta–Seca, afilhado de Virgulino (o Lampião). Boa Vida era o parasita do grupo, que cometia pequenos furtos apenas para constar a sua contribuição.

 Iniciavam precocemente a vida sexual, conquistando ou vitimando meninas no areal ou usando a lábia com mulheres mais velhas. Por um período, houve uma menina entre eles, Dora, vista, pela maioria, inicialmente, como objeto sexual, mas depois aceita como parte do grupo. Como a lealdade entre eles era grande, ela ficou segura. Ao praticar pequenos atos, como costurar suas roupas, passava-lhes a sensação de acolhimento maternal, coisa que acontecia com os menores, mas até com alguns mais velhos, como Gato, que tinha a sua idade, 14 anos. Para outros, era com uma irmã. Para Professor e Pedro Bala era uma potencial amante, mas só os sentimentos do segundo eram correspondidos.   Dora era mãe, irmã e noiva.

Os Capitães da Areia eram homens precoces, mas também meninos cuja infância roubada demandava “um ser criança”. Isso é bem evidenciado quando têm acesso a um carrossel em um parque de diversões, momento bem descrito pelo autor quando diz que “nessa hora esqueceram que eram diferentes das outras crianças”.

  Qual foi o destino desses meninos? Alguns do grupo seguiram uma carreira de crimes; outros encontraram uma vocação; dos que ficaram, uma parte tornou-se uma força de apoio para movimentos grevistas. 

O romance foi escrito em 1937 e é um retrato tocante da amizade, tão necessária à sobrevivência dos infantes abandonados. Pena que esse abandono não tenha ficado restrito ao passado…

Capitães da Areia
Autor: Jorge Amado

A história crua e comovente de meninos pobres que moram num trapiche abandonado em Salvador, é talvez o romance mais influente de Jorge Amado. Clássico absoluto dos livros sobre a infância abandonada, assombrou e encantou várias gerações de leitores e permanece hoje tão atual quanto na época em que foi escrito. Desde o seu lançamento, em 1937, Capitães da Areia causou escândalo: inúmeros exemplares do livro foram queimados em praça pública, por determinação do Estado Novo. Ao longo de sete décadas a narrativa não perdeu viço nem atualidade, pelo contrário: a vida urbana dos meninos pobres e infratores ganhou contornos trágicos e urgentes. Várias gerações de brasileiros sofreram o impacto e a sedução desses meninos que moram num trapiche abandonado no areal do cais de Salvador, vivendo à margem das convenções sociais. Verdadeiro romance de formação, o livro nos torna íntimos de suas pequenas criaturas, cada uma delas com suas carências e suas ambições: do líder Pedro Bala ao religioso Pirulito, do ressentido e cruel Sem-Pernas ao aprendiz de cafetão Gato, do sensato Professor ao rústico sertanejo Volta Seca. Com a força envolvente da sua prosa, Jorge Amado nos aproxima desses garotos e nos contagia com seu intenso desejo de liberdade. Saiba mais…

A Viagem de Pedro (2022), de Laís Bodanzky, por Daiane Carrasco

Tempos de Angústia

Lançado em 2022, dirigido por Laís Bodanzky, o filme trata da viagem de Dom Pedro I a Portugal, após abdicar, em 07 de abril de 1831, ao trono brasileiro em favor de seu filho Pedro de Alcântara, Dom Pedro II.

No contexto histórico, Pedro parte para reivindicar o trono português, ocupado por seu irmão, Miguel. Cauã Reymond esforça-se por dar ao protagonista a humanidade necessária. Além de um abismo estético entre o real e a ficção (Cauã é infinitamente mais galã), o problema é que Dom Pedro I não é um personagem que possa ser redimido. Os brasileiros gostavam muito de sua esposa, a Imperatriz Leopoldina, que sofria tremendamente com seus casos extraconjugais, especialmente com a predileção do marido por Domitila de Castro. O temperamento explosivo de Pedro em público, maltratando-a em diversas ocasiões, como na cerimônia do beija-mão, criava antipatia entre seus súditos. A questão política também não o favorecia. Apesar de ter proclamado a Independência do Brasil depois que seus pais, Carlota Joaquina e Dom João VI, retornaram definitivamente a Portugal, o país convulsionava em rebeliões. Enfraqueceu-se com a perda da Cisplatina (hoje, Uruguai) e com sua incapacidade de lidar administrativamente com dois impérios, haja vista que reclamou o trono português em 1825. Assim, o imperador estava longe de ser uma unanimidade: no Brasil, um confuso e mulherengo administrador; em Portugal, um traidor.

O roteiro mergulha nos dilemas existenciais do homem Pedro: sua culpa pelos erros do passado, particularmente no que diz respeito à Leopoldina, a preocupação, ainda que rasa, com o destino dos filhos que ele deixara no Brasil. Pela frente, uma guerra civil a travar contra seu irmão mais novo, Dom Miguel I, que desposa sua filha Maria da Glória e assume o trono português. Durante a longa travessia no Atlântico, defronta-se com seus fantasmas e com sua fragilidade física. Encontra-se adoecido e impotente. De fato, sofrera de epilepsia durante toda a vida.

Ilustração: Olga Carrasco Chaves

Algumas inconsistências decorrem da idealização. Para entendermos a angústia e os dilemas de Pedro, é preciso voltar inúmeras vezes ao seu passado, de modo que a narrativa não é muito fluida. Outra questão importante é que tem-se poucos documentos sobre a viagem em si. A liberdade criativa dos roteiristas gerou alguns excessos em certos momentos, como a proximidade afetiva entre o monarca e a tripulação negra do navio. Por mais que ele tenha se manifestado por escrito, já em seus últimos dias, contra a escravidão, não tiraria a sorte nos búzios, por exemplo. Perde-se o fiel da balança entre o mito e a imagem real e desconstruída de Dom Pedro I, que é a proposta inerente do filme.

No mais, “A viagem de Pedro” tem seus méritos: reconstituiu ricamente uma embarcação do século XIX, tem bela fotografia e figurino. O longa também aproxima os brasileiros de um dos seus vultos históricos mais relevantes e leva o público a tirar suas próprias conclusões. A tensão e o desespero diante da perspectiva da derrota, do vexame, da caricatura, são palpáveis para o espectador que, a despeito de todos os pesares contra o protagonista, sensibiliza-se com o sofrimento de Pedro. Talvez porque todos nós soframos por algo, e não nos sentimos no direito de julgá-lo quase 200 anos depois.

A Viagem de Pedro (2022)
Direção: Laís Bodanzky

Roteiro: Laís Bodanzky, Luiz Bolognesi
Elenco: Cauã Reymond, Vitória Guerra, Rita Wainer

Um olhar intimista sobre a vida de Dom Pedro I (Cauã Reymond) e dos eventos históricos que giram em torno do príncipe, com atenção para um momento determinante de sua trajetória. Em 1831, o primeiro Imperador do Brasil volta à Europa sob condições adversas, no navio inglês Warspite. Diante de sua abdicação ao trono do Brasil, esse é um momento de profunda reflexão para D. Pedro I, que pondera os erros e acertos de sua administração desde o momento em que chegou no país com sua família aos 10 anos de idade, em 1808. A Viagem de Pedro toca em assuntos delicados sobre o imperador do Brasil enquanto volta para a Europa. Assuntos como sua masculinidade, epilepsia e sua suspeita de ter contraído sífilis e sua instabilidade emocional enquanto deixava seu filho no país e se separava dele. A representação intimista de Pedro mostrará como o tal se sentia traidor de Portugal e alguém sem pátria definida. Saiba mais… (AdoroCinema)

Solidão: produto da invisibilidade social, por Fernanda da Fonseca Pereira

Tempos de Solidão

De qual solidão padecemos? Aquela que amarga a alma, que faz sentir o peso do espírito no corpo? Aquela que traz a indiferença do mundo perante a nossa existência? Ou ainda, aquela alimentada, todos os dias, pelo sistema social, econômico e político que (re) produzimos? A solidão tem manifestações diferentes, mas, também causas diferentes. Aqui, prefiro analisar a solidão como parte das expressões sociais. Na sociedade em que (sobre) vivemos fomos educados para aceitar diferenças como sinônimo de acesso desigual à vida digna. Somos (re) produtores da solidão que mata de fome, que adoece, que encarcera sonhos, isolando-nos do sentido da relação com o outro e tornando a vida um constante buscar de alianças em prol da sobrevivência. 

Esquadrinhamo-nos uns aos outros, assim como Pedro Bala e seus companheiros se encontraram na solidão do abandono, retratada na obra de Jorge Amado, Capitães da Areia. Buscamos alguém que sofra o mesmo que nós, que também tenha uma peça faltando, que esperou por algo que não chegou.  Foi assim que morreu Raimundo, estivador e líder sindical, pai de Pedro Bala, líder do bando Capitães da Areia. Raimundo morreu lutando por condições dignas de trabalho, no contexto da Ditadura do Estado Novo.

A obra Capitães da Areia se passa num contexto onde, diante do crescimento das oligarquias agrária e industrial, ainda não havia a regulamentação das relações de trabalho no país. A Constituição de 1937 marcou o início da política social no Brasil, que destacava o necessário reconhecimento das categorias de trabalhadores pelo Estado. Em 1943 finalmente foi promulgada a Consolidação das Leis Trabalhistas, a CLT. Foi nessa conjuntura que morreu Raimundo. A obra foi publicada em 1937, antes da CLT. Assim como Raimundo, morreram tantos outros na luta pela dignidade dos trabalhadores. Pedro Bala sabia o que era morrer por um ideal. Ele sentia a desigualdade do mundo, alguns recebiam salários dignos e muitos outros não, por isso a greve. Ao fim de tudo, Pedro Bala deixou o bando Capitães da Areia para seguir, como o seu pai, na militância operária.

A solidão, na obra Capitães da Areia significou, em vários trechos, o encontro com a desigualdade e a invisibilidade social. O bando de crianças e adolescentes, órfãos de família e da proteção do Estado, gritavam, a cada assalto, contra a solidão destruidora produzida pela negligência daqueles que não chegaram: seja a família, sejam cuidadores, seja a proteção do Estado.

Os meninos e a menina Dora são moradores de rua, cada um com histórias de vidas diferentes, mas todos marcados pela infância abandonada. Capitães da Areia destaca a história de meninos em situação de rua, na cidade de Salvador no começo do século XX. Realiza relevante crítica social a diversos temas que mais tarde reverteram-se em políticas públicas, como a implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente.

O Estado Novo (Ditadura de Getúlio Vargas: 1937-1945), caracterizado pelo moralismo, ideais fascistas, culpabilização do indivíduo pela sua condição de pobreza, abandono e solidão, pode ser percebido como norteador da sociedade brasileira através das “Cartas à redação”. Nesta seção do jornal, o bando Capitães da Areia tem o rótulo publicitado na manchete do jornal: “CRIANÇAS LADRONAS (…)URGE UMA PROVIDÊNCIA DO JUIZ DE MENORES E DO CHEFE DE POLÍCIA – ONTEM HOUVE MAIS UM ASSALTO”. Dentre as solicitações de providência estava a captura das crianças e adolescentes e a internação no reformatório de menores, espaço alvo de denúncia de trabalho escravo e outras formas de violência contra crianças e adolescentes.

Criminalização e violência constituíram parte das ações destinadas aos meninos de rua. Infelizmente, essas marcas não fazem parte apenas da ficção, mas definiram simbolicamente o modelo de implementação para a política social no nosso país. Em 1726, a assistência infantil foi marcada pela ação caridosa destinada ao abandono de crianças, sendo criado pela irmandade da Santa Casa de Misericórdia, na Bahia, o primeiro compartilhamento cilíndrico instalado na parede de uma casa que girava para fora e para dentro, onde crianças rejeitadas pelas suas famílias eram colocadas ali para doação. A Roda dos Expostos ou “Roda dos Rejeitados”, foi desativada apenas em 1940. Filhos de escravos e filhos de relações fora do casamento eram os principais motivos de abandono de crianças na Roda dos Expostos. Em 1890, crianças e adolescentes, entre 9 anos e 14 anos, que cometiam qualquer forma de delito eram avaliadas psicologicamente e penalizadas de acordo com o seu “discernimento” sobre o delito cometido, podendo receber a pena de um criminoso adulto, se fosse considerado necessário. Abandono e punição constituem a história de crianças e adolescentes relegadas à solidão, definida pelas instituições que as deveriam proteger: família e Estado. 

Até o ano de 2023, o Conselho Nacional de Justiça e o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento registrou 32 mil crianças e adolescentes acolhidos, abandonados pelos pais ou responsáveis, uma média de 262 casos por mês. Felizmente, agora, o ato de abandonar “incapaz” é crime e a pena varia entre 6 meses até 3 anos de detenção. Na atualidade, o abandono é motivado pelo “mau comportamento”, situações de doença mental e dependência de substâncias psicoativas. São famílias, na maioria das vezes, em situação de pobreza que não encontram no Estado o amparo necessário.

Outro estudo, divulgado pela Agência Senado, revela que até agosto de 2024 o nosso País tinha, em média, 5 mil crianças e adolescentes assassinados por ano. Entre 2021 e 2023, foram registradas pelo menos 15.000 mortes violentas de crianças e adolescentes. A maioria dessas mortes eram de negros do sexo masculino, na faixa etária entre 15 e 19 anos[1]. Desde 2021, no nosso país, anualmente, uma média de 43,9 mil crianças e adolescentes, até 17 anos, são abandonados por pelo menos um dos pais[2].

Felizmente, na literatura de Jorge Amado, Pedro Bala tornou-se militante operário, dando visibilidade aos esfomeados, abandonados e explorados da cidade, escutando a convocação de luta para a militância proletária. Contemporaneamente, precisamos de outros militantes como Pedro Bala, que sonhem com dias melhores para nossas crianças, adolescentes e trabalhadores (as) e lutem contra a desigualdade do nosso país, porque a vida real marca, como ferida exposta. Vivemos a contínua desvalorização da classe trabalhadora, enfraquecida pela ampla carga horária a ser cumprida e pelo forçoso afastamento das relações afetivas e coletivas.

Pais que são consumidos pelas excessivas horas de trabalho e o Estado voltado aos interesses do mercado (re) produzem a solidão como parte do processo de exclusão. É preciso lutar contra a solidão produzida pela desigualdade, e em analogia ao poema de Bertold Brecht: quando levarem nossas crianças e adolescentes, nos importemos! Quando levarem os operários, nos importemos! Quando prenderem os miseráveis, nos importemos! Quando agarrarem os desempregados, nos importemos! E, por fim, em homenagem à Mãe de Santo Aninha, de Capitães da Areia, lutemos emanados pela vibração de Ogum, levantando nossas espadas e escudos junto à multidão de crianças, adolescentes e trabalhadores (as) abandonados pelo Estado. Ogunhê!


[1] Da Agência Senado, 23/08/2024. Acesso em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2024/08/23/brasil-tem-5-mil-criancas-e-adolescentes-assassinados-por-ano-aponta-debate#:~:text=Os%20n%C3%BAmeros%20chocam%3A%20entre%202021,anos%20%C3%A9%20a%20mais%20vitimada.

[2] Fonte dos dados: Portal Lunetas: https://lunetas.com.br (7/12/2022); Agência Brasil: https://agenciabrasil.ebc.com.br (17/08/2023); Portal g1: https://g1.globo.com (27/11/2024).

Tempos de Violência, por Cristiano Landgraf

A violência faz parte da história da humanidade.  Mas quando falo na humanidade, me refiro desde o início de nossa história, diferente do conceito eurocêntrico de pré-história, ou seja, de que a história só começa a partir da invenção da escrita. Considero a nossa história desde que o nosso primeiro ancestral criou suas primeiras ferramentas e se tornou bípede. A partir desse momento a violência fez parte da nossa trajetória. Obviamente muito diferente do que vemos na sociedade atual, onde o sistema econômico de mercado prevalece e que, segundo outro conceito do eurocentrismo, vivemos no período da civilização, que tem como características a existência de cidades, governo, religião, hierarquia social, escrita, arte, desenvolvimento de ciência e tecnologia e capacidade de produzir excedentes alimentares.

Antes de nos aprofundarmos na questão da violência atual, é importante lembrar que nos primórdios da humanidade éramos caçados por predadores maiores, e mesmo depois que nos tornamos caçadores, continuamos sendo caçados até chegarmos ao topo da cadeia alimentar. Então, há uma explicação para a violência que existiu na aurora da humanidade – assim como qualquer outro animal, lutamos pela sobrevivência, matando ou morrendo.

Chegamos em 2025 com uma grande certeza: a banalização da violência é uma realidade brasileira e mundial. Cenas como do policial em São Paulo jogando um entregador de cima de uma ponte são inaceitáveis, mas para alguns é apenas um policial fazendo o seu trabalho contra um “bandido” que teve o que mereceu. Posso listar dezenas, centenas, milhares de atos de violência que demonstram a banalização da mesma, como as agressões contra mulheres, crianças, adolescentes, idosos, não brancos, membros da comunidade LGBTQIA+, animais, etc. Isso é algo novo? Não, não é, mas num momento em que os extremismos políticos e religiosos proliferam, tentando justificar a necessidade de derrotar “inimigos” imaginários, a violência parece justificada. Preconceitos como machismo, racismo, homofobia, entre outros, se tornam mais presentes e toleráveis. No campo político tivemos um caso didático: o plano de assassinato do presidente e do vice para executar um novo golpe militar no Brasil.

A violência não é exclusividade do presente e nem de um passado recente. Afinal, houve uma diversa gama de genocídios, assassinatos, períodos de tortura e execuções como da santa inquisição, entre outros ao longo da História. Então o que nos diferencia desse passado? Podemos começar com a popularização da violência nos meios de comunicação. Não falo somente da indústria do cinema, mas do entretenimento em geral, incluindo a internet. Vemos diariamente programas na tevê aberta dedicados exclusivamente a divulgar ações violentas dos mais variados tipos, sempre julgando o “vagabundo”, como gostam de salientar, merecedor de uma represália à altura. Ou seja: violência com mais violência, e nunca considerando as causas sociais, mas atacando a consequência – violência explícita e midiática. Afinal, programas desse esse tipo são uma mina de ouro. Temos um combo de interesses na violência como parte aceitável de nossas vidas. Poucos atos violentos comovem a sociedade brasileira, como o assassinato de Isabella de Oliveira Nardoni, de 5 anos, em São Paulo, em 2008. Ou do caso do menino Bernardo, de 10 anos, morto pela madrasta com ajuda de outras duas pessoas na cidade de Três Passos, no RS, em 2014. Ambos os crimes não aconteceram nas favelas, nas periferias e com pessoas negras ou pobres. Por isso, foram amplamente cobertos pela mídia nacional, gerando comoção. Afinal, nas comunidades, infanticídios acontecem quase que diariamente, mas crianças negras e/ou pobres assassinadas é algo que se tornou banal e aceitável pelos brasileiros.

Então podemos dizer que as pessoas na realidade são más, que a violência é algo impossível de se impedir? Para responder essa pergunta teríamos que entrar numa grande discussão filosófica. Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês, acreditava que o homem nasce mau e só é bom quando lhe convém. Já o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) acreditava no contrário, para ele o “homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”. Apesar de ser uma discussão apaixonante, o objetivo desse artigo não é esse. Deixo como uma provocação para o leitor pensar. Vivemos tempos brutais, onde os extremos da chamada ultradireita buscam a hegemonia para criar um estado conforme suas ambições políticas, econômicas, sociais e religiosas. Vivemos, sim, TEMPOS DE VIOLÊNCIA e não é um filme de Quentin Tarantino. Infelizmente, é a realidade das ruas.

Tarja Preta, por Igor Pires Leon

Tempos de Tarja Preta

Mesmo tomando dois comprimidos tarja preta, a menina não parava de chorar, de sentir-se angustiada. Aparentemente não havia causa para tanto choro, para tanta angústia. A mãe, desesperada em ver a filha naquele estado, chorava também. Perguntava à filha o que se passava, o que ela sentia, mas a menina só chorava. O pai, por seu lado, achava que tudo não passava de frescura, dizendo que a filha precisava era mesmo de uma boa surra, que eles erraram na educação da menina, a mimaram demais.

— No meu tempo, se resolvia na cinta. Hoje, com esse papo de conversa aqui, conversa acolá, as pessoas ficam cheias de frescura. É parar de tomar o remédio que ela fica assim…

Foto: Olga Carrasco Chaves

Na opinião do pai, não havia motivo para a filha ficar naquele estado, chorando pelos cantos da casa, prostrada, deixando os estudos de lado, abandonando até mesmo o trabalho que conseguira recentemente. Ela tinha tudo do bom e do melhor.

— Quero morrer! − gritou a menina. A mãe exasperou-se ainda mais, olhou para o marido, que nem ligou − ela sempre dizia que queria morrer.

O pai deixou o quarto, batendo a porta, resmungando. A mãe permaneceu ao lado da filha, acariciando-lhe o rosto, os cabelos longos e finos. Perguntava-se em seu íntimo o que teria acontecido para sua garotinha ficar daquele jeito, assim, tão de repente, necessitando de terapia e de medicamentos psicoativos de receita controlada, os tais “tarja preta”. Para a mãe, isso era coisa de gente estranha, deprimida, mas a filha não era. Ou será que era?

— O que se passa com você, minha filha?

Larissa tinha 19 anos, estudava Enfermagem numa faculdade particular na zona leste de São Paulo. Não era uma aluna muito dedicada, mas sempre fora alegre, comunicativa até que…  No meio de uma madrugada, acordou assustada, suando, o coração disparado, como se tivesse em pânico. Talvez fosse o sonho que ela tivera, talvez, mas ela não lembrava do sonho, ou do pesadelo, fosse o que fosse. Era uma sensação estranha, de aperto no peito, de aflição, de perda.

Com o passar dos dias, aquietou-se de uma tal maneira que foi de se estranhar, desmotivando-se da vida, sem enxergar sentido em nada, sem motivação até para tomar uma boa xícara de café que ela tanto adorava. Chorava aqui e acolá sem causa aparente, passando noites em claro, sempre sentindo um medo na hora de dormir, pois tinha certeza que não dormiria mais uma noite.

Sentia um vazio interior, mas nem mesmo ela sabia responder que parte lhe faltava. A felicidade alheia lhe incomodava. Como as outras pessoas podiam ser felizes e ela não? Por que o mundo era feliz, menos ela? Questionava-se, sem encontrar respostas. Queria ser como suas amigas, felizes, realizadas. Desejava ter a vida delas − não mais a dela, tão insípida e desimportante.

A mãe levou-a para se consultar com um especialista, mesmo ela não querendo, pois dizia que não precisava, que era apenas uma fase − enganava-se. Não disse nada ao especialista, ficando calada durante a consulta toda, mesmo diante dos questionamentos do profissional.

— O que lhe interessa a minha vida? – falou rispidamente.

— Vou lhe receitar um comprimido para você tomar. Apenas um por dia e vai se sentir muito melhor.

— Mas o senhor não sabe o que eu tenho.

— Muito menos você sabe o que tem. Você não me respondeu nenhuma pergunta que eu lhe fiz, então, eu suponho que… − Receitou um remédio de tarja preta para a menina, uma dosagem pequena, até que ela pudesse se recuperar.

— Tarja preta, doutor? Mas eu não sou louca!

— É apenas por um tempo.

— Quanto tempo?

— O tempo que você precisar.

— Mas como eu vou saber o tempo que preciso?

— Eu sei.

— Sabe mesmo?

O psiquiatra apenas sorriu. De início, os remédios deram-lhe tranquilidade, sentia-se aparentemente feliz, mas ficava meio aérea, uma sensação de realidade distante, mas era melhor do que não dormir. A vida ficou “colorida”, mas quando cessava o efeito do remédio… Tudo voltava a ficar cinzento, a melancolia voltava, o choro, então… Com o tempo, passou, por conta própria, a aumentar a dosagem. Mesmo tomando dois comprimidos, não parava de chorar, de sentir-se angustiada. Aparentemente não havia causa para tanto choro, para tanta angústia. A mãe, impotente, chorava também.

— O que precisa para você sair dessa situação?

— Ter outra vida! − respondeu aos prantos.

Tempos de uberização, por Karine Souza e Pousas

Se eu apresento uma grande ideia e com ela resolvo o problema de outras pessoas, então tenho o gérmen para um negócio milionário. Este é o lema contemporâneo que, ao mesmo tempo, está focado no superfaturamento de preços e na maximização de lucros, como se fossem o único caminho para uma ideia empreendedora bem-sucedida.

Soluções como Uber e Ifood são ideias fantásticas que trazem mais conforto e comodidade para a sociedade, porém, este benefício individual tem um preço alto: a exploração de uma cadeia de trabalhadores. Afinal, para o nascimento de unicórnios (nome dado às startups de sucesso), muitos escravos são sugados e padecem para a construção das estradas de arco-íris.

São proletários que nem são mais reconhecidos como trabalhadores. Isso porque eles são “empreendedores”. Neste processo de pejotização, no qual a maioria dos prestadores de serviço são microempreendedores individuais (MEI), uma série de mitos e falácias são divulgados para que cada um encontre um unicórnio para chamar de seu.

Neste jogo de gigantes que aceitam todos os cavalos — com ou sem um chifre na testa — o microempreendedor segue o sonho da liberdade enquanto, na verdade, perde o acesso aos direitos trabalhistas, à estabilidade de ganhos e passa a ser o maior ou único responsável por sua força de trabalho.

Se uma empresa como o Mercado Livre tem muitas mercadorias para serem entregues no período de Natal, o serviço de logística tem muitas vagas disponíveis para que empreendedores, em seus carros próprios, façam as rotas de entrega. Acontece que se em janeiro o volume de entregas reduzir, a empresa não precisará se preocupar com nenhum destes empreendedores. Não há vínculo contratual que exija qualquer suporte social aos prestadores de serviço das megaempresas.

Há 5 anos trabalho com empreendedorismo periférico, por meio do projeto “Cirandas da Terra”. Um dos pontos mais relevantes que observo são as razões pelas quais as pessoas buscam o empreendedorismo. Muitas vezes o objetivo principal não é o dinheiro, mas a disponibilidade de tempo, a qualidade de vida e a possibilidade de fazerem o que gostam, ou a completa falta de melhores opções. Uma mãe solo, sem rede de apoio, em situação de vulnerabilidade, terá poucas chances de obter renda fora do empreendedorismo.

Foto: Olga Carrasco Chaves

Por mais que nem todo pequeno empreendedor seja um motorista de aplicativo ou uma revendedora de cosméticos, outro ponto sensível surge em grandes prestadoras de serviço que crescem à custa da exploração desenfreada do trabalhador terceirizado.

Muitas vezes, os empreendedores são pessoas que decidem apostar em um novo cavalo nessa corrida e o governo faz vista grossa para essa situação de exploração. E como cavalo dado não se olha os dentes, seguem solitários com suas mazelas e sacrifícios. Sem escolha ou ignorantes do quão prejudicial este caminho pode se apresentar, tanto imediatamente quanto a longo prazo, acabam à mercê da sorte em situações de invalidez ou no momento da aposentadoria.

A verdade é que essa tendência mundial desenhou um cenário difícil de ser desfeito. É preciso criar novas políticas públicas que acompanhem as relações de trabalho do século XXI e melhorem o bem-estar social dos operários uberizados. Por enquanto, não dá para desuberizar a economia. Não dá pra tirar o cavalinho da chuva como se tudo estivesse bem.

Cavalo-marinho é trans, por Daiane Carrasco

Tempos de Diversidade

Na minha cidade, o transporte coletivo não é lá essas coisas. Espera-se muito. Anda-se pouco. Consome-se tempo. Eu tinha acabado de perder o dito cujo que me levaria ao destino por uma bagatela de cinco reais. Sentei. Estava quieta, na minha, esperando o próximo ônibus. Começo a prestar atenção nas conversas.

Duas senhoras falavam empolgadas. Amigas, decerto. Cedi o lugar no ponto de ônibus, coloquei-me em pé. Mexia no celular. Distraía-me. Até que uma delas começa a contar um causo, que na opinião da idosa narradora era um absurdo: um homem chega no hospital e é atendido na maternidade e dá a luz um bebê. Seguiu-se um rosário de frases preconceituosas, desde “o mundo está perdido” até “deveria ser proibido esses degenerados terem filhos”. A ouvinte também emitia comentários igualmente tenebrosos e fundamentalistas. No calor da discussão, pedem minha opinião:

Ilustração: Olga Carrasco Chaves

— E não é, moça?

— Vamos por partes… Vocês são cristãs, certo? Acreditam que Deus criou todas as coisas, não é?

— Claro… Todo o dia louvo a Deus, nosso Senhor.

— E o que seria de nós sem Jesus, minha filha? — Ok. Seguindo o raciocínio: se Deus criou os animais e as plantas e se Ele é perfeito, logo, não comete erros. Sim ou não? – Ambas concordaram com a perfeição do Todo Poderoso. – E se os animais são um reflexo do poder criativo desse deus, eles não têm maldade, suponho…

— As criaturas de Deus são puras, minha filha! – Exaltava-se a que me chamava pela alcunha infame de “minha filha”.

— A minhoca é hermafrodita: é macho e fêmea ao mesmo tempo. Os caramujos idem. O cavalo-marinho é como o homem da história de vocês: um macho que tem filhotinhos. O cavalo-marinho, por acaso, não é de Deus? Ou a minhoca? Ou os caramujos?

Ficaram desconcertadas. Não sabiam o que dizer. Passados dois segundos, a outra insistiu:

— Mas esse homem nasceu mulher, virou homem. Aí, de barba, engravida! Isso não é de Deus! – Questionava-me se a ausência de pelos no rosto faria diferença…

— Veja bem, minha senhora. Homens trans têm útero e podem, sim, gerar filhos biológicos. Não tem nada a ver com Deus. Sua opinião é baseada no seu preconceito, puro e simples. Tenha coragem e admita. Agora, não use argumentos religiosos porque, sinceramente, eu os usei aqui. A senhora concordou com todos eles.

Meu ônibus chegou. Não pude prosseguir com a sabatina. Ainda dei uma última olhada para ambas. Gabava-me. Desconcertei as velhinhas. Plantei a sementinha da dúvida, da inquietação. Uma pequena vitória, que talvez não significasse nada. Não mudariam de ideia, mas pensariam: cavalo-marinho é trans.

Livros Indicados

Livros recomendados para abrir a mente: um líder indígena brasileiro expondo seu modo de pensar, uma escritora moçambiquenha criticando a poligamia em seu país e um escritor haitiano narrando a cultura do Haiti de forma eloquente. Fora da caixa total! Já conhecia? Que tal um desses na próxima leitura?

A vida não é útil
Autor: Ailton Krenak

Em reflexões provocadas pela pandemia de covid-19, o pensador e líder indígena Ailton Krenak volta a apontar as tendências destrutivas da chamada “civilização”: consumismo desenfreado, devastação ambiental e uma visão estreita e excludente do que é a humanidade.

Um dos mais influentes pensadores da atualidade, Ailton Krenak vem trazendo contribuições fundamentais para lidarmos com os principais desafios que se apresentam hoje no mundo: a terrível evolução de uma pandemia, a ascensão de governos de extrema-direita e os danos causados pelo aquecimento global.

Crítico mordaz à ideia de que a economia não pode parar, Krenak provoca: “Nós poderíamos colocar todos os dirigentes do Banco Central em um cofre gigante e deixá-los vivendo lá, com a economia deles. Ninguém come dinheiro”. Para o líder indígena, “civilizar-se” não é um destino. Sua crítica se dirige aos “consumidores do planeta”, além de questionar a própria ideia de sustentabilidade, vista por alguns como panaceia.

Se, em meio à terrível pandemia de covid-19, sentimos que perdemos o chão sob nossos pés, as palavras de Krenak despontam como os “paraquedas coloridos” descritos em seu livro Ideias para adiar o fim do mundo, que já vendeu mais de 50 mil cópias no Brasil e está sendo traduzido para o inglês, francês, espanhol, italiano e alemão. A vida não é útil reúne cinco textos adaptados de palestras, entrevistas e lives realizadas entre novembro de 2017 e junho de 2020. Saiba mais… (1º mais vendido na Amazon em 28/01/2025)

Balada de amor ao vento
Autora: Paulina Chiziane

Primeiro romance de Paulina Chiziane, este livro conta a história de amor de Sarnau e Mwando e traz a semente do que viria a ser o clássico Niketche. Leitura obrigatória do vestibular da Fuvest.

“Com a poligamia, com a monogamia ou mesmo solitária, a vida da mulher é sempre dura.” Balada de amor ao vento é uma obra pioneira. Não apenas por ser a estreia de Paulina Chiziane na prosa longa e o primeiro romance publicado por uma mulher em Moçambique, mas também por trazer a semente do que a autora viria a construir em Niketche. “Tudo começa no dia mais bonito do mundo”, quando Sarnau vê Mwando pela primeira vez. Ela se apaixona de corpo e alma, ele a abandona. Ela luta para sobreviver à solidão, ele retorna ― antes de partir mais uma vez. Eles se envolvem em uma história de amor que tem a relva como cenário e o vento como melodia, mas uma herança conservadora entre os dois.

Em um relato poético e quase espiritual de Sarnau, acompanhamos os encontros e desencontros, as escolhas e as renúncias, o desamparo e o privilégio de uma sociedade onde certas tradições afetam diretamente a autonomia da mulher e sua sobrevivência. “Em Balada de amor ao vento, Paulina Chiziane escreve o amor que é devorado por feitiços destruidores e disputado pela inveja e pela solidão que nascem da poligamia. O amor das mulheres que são submetidas aos homens e que não sabem delimitar sentimentos.” ― Jarid Arraes. Saiba mais…

País sem chapéu
Autor: Dany Laferrière

Depois de vinte anos de exílio na América do Norte, um escritor regressa a seu Haiti natal e enfrenta o desafio de narrar essa experiência. À maneira de um pintor primitivo, com traço firme, cores vivas e perspectiva multifacetada, além de extrema inteligência e sensibilidade, ele conta sua perambulação pelas ruas de Porto Príncipe, seu cotidiano singular, pulsante de vida e de morte. A cada passo surgem pequenos quadros com personagens e situações inusitadas; grandes reencontros que disparam lembranças, nem sempre doces; diálogos inesperados, que revelam as inquietantes novidades do aqui e agora. Em meio ao vaivém de reconhecimento e estranhamento, onde se alternam o país real e o país sonhado, o autor é convidado a realizar uma viagem ao “país sem chapéu”: o reino dos mortos e dos deuses do vodu. Saiba mais…

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