Cultura Verde – Da Sustentabilidade ao Greenwashing
Ser ecológico virou moda. Para além da conexão do ser humano com a natureza, promoção de saúde e preservação dos recursos para as gerações vindouras, a cultura verde chega como um mote diferente: mostrar para o mundo que você tem uma pegada ecofriendly.
Óbvio que nem todas as pessoas e organizações que lutam em prol da preservação, manutenção e regeneração da natureza estão preocupadas apenas em aparecer. Uma tomada de decisão pessoal ou projeto ambiental pode ser essencial para diminuir a pegada ecológica. Neste sentido, nós vemos desde a adoção do vegetarianismo até a escolha de meios de transporte que reduzem a emissão de carbono ou consumo zero por quilômetro (baseado no movimento slow). Há uma gama de mudanças pessoais e também grandes projetos de recuperação ambiental de regiões impactadas pelas indústrias, como o desenvolvimento de embalagens recicladas e recicláveis, além de cadeias produtivas ambientalmente adequadas.
Cada vez mais pessoas estão se conscientizando da importância de cuidar do nosso planeta. Este novo perfil de consumidor está disposto a pagar mais para empresas que têm uma postura sustentável. Para engrossar o caldo, a pauta ESG (sigla em inglês para Enviromental, Social and Governance, ou o tripé Ambiental, Social e Governança) vem transformando o mundo corporativo, estimulando a implementação de práticas ambientalmente corretas, socialmente adequadas, de governança e transparência. Isso também contribui para uma urgência: passou da hora de as empresas se tornarem responsáveis pelo que produzem, como produzem e como distribuem seus produtos.
O resultado positivo é a transformação verdadeira de empresas e celebridades, que aproveitam a mudança para promover o que é chamado de marketing verde. No aspecto negativo, observamos o greenwashing, ou maquiagem verde. Este conceito consiste no uso de propagandas de ações ambientalmente adequadas que são apenas fachada.
Alguns exemplos de greenwashing que ficaram muito populares são da L’Oréal que diz não realizar testes em animais, mas vende para a China (país em que é OBRIGATÓRIO o teste em animais para determinados produtos). A Fiat também entrou em descrédito em 2017 quando anunciou o suposto “pneu super verde”, sendo que o mesmo era fabricado de forma tradicional pela Pirelli. Já a Volkswagen foi além e usou um software para burlar os dados de emissões de gases poluentes dos seus motores a diesel.
Essa corrupção verde recebe as punições da lei e outras mais inteligentes, como os boicotes dos consumidores em relação a uma determinada marca. É comum que uma empresa ou outra ainda escorregue nesse período de transição, mas essa prática não pode ser considerada normal.
A luta por um terreno mais verde não se resume às empresas. Talvez um ponto cinza neste mapa sejam justamente pessoas públicas, grandes celebridades que usam essa bandeira para encobrir a verdade evidente: eles apoiam causas ambientais, mas não estão dispostos a fazer mudanças pessoais, como reduzir o consumo e adotar um estilo de vida menos opulento.
Dentre tantos nomes que são questionados por praticarem greenwashing como Mark Ruffalo, Gisele Bündchen, Leonardo DiCaprio e Anitta, alguns deles saltam aos olhos. DiCaprio, por exemplo, é famoso por apoiar causas ambientais desde os 24 anos. Entretanto, a Fundação Leonardo DiCaprio (LDF), que já arrecadou quase 100 milhões de dólares para a execução de seus projetos, funciona em um formato no qual não presta contas sobre o investimento das doações.
No Google Summit que discutiu mudanças climáticas na Sicília, Itália, 114 jatos privados foram fretados por celebridades para participarem do evento. Se uma atitude dessa pode parecer necessária, ou banal, então é importante olhar para os dados que só 1% das pessoas respondem por 50% das emissões poluentes da aviação (Revista Planeta). Celebrity’s greenwashing total!
Um passo por vez. Vale pesar e pensar quais atitudes ecologicamente adequadas dá para adotar. Da mesma forma, esperamos e exigimos das organizações e pessoas públicas uma sinceridade e até mesmo cumplicidade nessa caminhada. Que o verde não seja apenas a estampa e sim o sinônimo de uma transformação verdadeira em direção a dias melhores.
Muito mais do que bandeiras e estampas, a consciência neste processo é fundamental. A indústria nos ludibria e vende junto com seus produtos os nossos desejos mais íntimos. Será que investir em um pacote de café sustentável da Starbucks (que tem sido questionada não sobre a cadeia de produção, mas sim pelo uso do termo “100% ético”) é mais coerente do que apreciar o item de um pequeno produtor orgânico local? Atitudes conscientes nos garantem clareza, coerência e geram um impacto menor do que seguir a boiada, mesmo que seja de carne verde.
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